Dead Combo “Vol. 2 - Quando A Alma Não É Pequena”
Depois de promissora estreia há dois anos, o segundo álbum dos Dead Combo confirma ser este um dos mais entusiasmantes projectos da actual música portuguesa. Mantém-se as premissas que conhecemos na origem, ou seja, fazer uma música instrumental, protagonizada por diálogos discretos entre uma guitarra e um contrabaixo, cenografias com espaço e capacidade em criar ambientes a envolvê-los, como se de uma banda sonora para um filme se tratasse. As sugestões transportam-nas para uma América sonhada, ora profunda e vasta, ora mais urbana e claustrofóbica. Depois regressam, discreta e pontualmente, as marcas de um fado assimilado segundo modos muito pessoais, disseminando nas entrelinhas de alguns momentos, com protagonismo evidente em Ai Que Vida, um dos mais interessantes exercícios de recontextualização de uma música que, sabemos já, não é sagrada mas antes vive, e pede que a reinventem (como aqui, por exemplo, tão bem se faz). Pelo álbum abundas citações cinematográficas, quer em títulos de temas, quer em evidentes assédios a registos que fizeram história em grandes filmes. Um dos melhores discos de 2006 até ao momento e um daqueles que o tempo não vai esquecer.
Prince “3121”
Este é o melhor álbum de Prince em 15 anos, o que não quer dizer que seja um registo ao nível dos discos clássicos que editou entre 1982 e 87. Todavia, é neles que Prince reencontra pistas para tentar arrumar uma casa onde vive, desnorteado, desde que mudou de nome, de amores, de sons, de tudo e mais alguma coisa… Este é um disco de reencontro com o electro de Dirty Mind, a pop ensopada a funk de Purple Rain e até laivos do minimalismo de Parade. Mas também um disco de descoberta da cultura musical latina (da melhor forma no pujante Lolita, menos entusiasmante na balada para bar de hotel que é Te Amo Corzaón). E, acima de tudo, um disco que afirma a vida no presente através de modelos de produção actuais, como que a sublinhar que uma busca de referências no passado não é, necessariamente, uma manobra de nostalgia. Pena que, no fim, a oferta seja irregular, dividido que está o alinhamento em grandes momentos como há muito não escutávamos, e nova dose de baladas ensopadas em facilidades para FM quarentão americano.
Prince “Ultimate”
Complemento ideal a 3121, já que esse é um álbum com sinais de recolha de pistas no passado do próprio Prince, esta é uma nova compilação que resolve muito bem, em apenas dois discos, alguns dos momentos que fizeram história no período de quase 20 anos em que o músico esteve ligado à Warner. O primeiro CD é um suculento best ofg de singles incontornáveis. O segundo recolhe versões dos máxis originais, muitas delas até aqui ainda inéditas em CD. Para quando a caixa antológica com os lados A e B, e as remisturas, da etapa 1978-1996?
Nick Cave + Warren Ellis “The Proposition”
Se o disco dos Dead Combo sugere por si só um percurso num espaço americano profundo, cabendo a cada um de nós a visualização das imagens projectadas pela música, este é a banda sonora concreta de um percurso australiano profundo idealizado por Nick Cave, que, além da música, assina o argumento de The Proposition, o seu western dos antípodas há muito sonhado e só agora concretizado. Apesar do recurso frequente a cordas, a banda sonora opta sobretudo por pequenos diálogos entre guitarras e contrabaixo, e por uma definição de texturas que amplificam o vazio do espaço, sugerindo-se assim uma noção de desolação e vastidão que parte da dimensão do homem e o esmaga perante o espaço desértico que nas imagens o envolve. A música é essencialmente instrumental, cortada discretamente a momentos por cantares falados, sussurrados, de Nick Cave, num registo em clara sintonia com os ambientes aqui sugeridos. Não é a primeira vez que Nick Cave trabalha para cinema (nem como argumentista nem como autor de música). E, de resto, sempre houve uma impressionante carga cinematográfica em muita da sua composição. Mas este está longe de ser o seu melhor episódio neste departamento.
Também esta semana: Beach Boys (Pet Sounds, edição dos 40 anos), Quantic, João Afonso, Daniel Agùst, Maria Teresa de Noronha (caixa)
Brevemente:
27 Março: Monsieur Gainsbourg (tributo), Massive Attack (best of + DVD), Maximo Park (lados B), She Wants Revenge (edição local), Japan (best of + DVD), Yeah Yeah Yeahs, Depeche Mode (reedições), Tributo aos GNR, Wire (reedições), Eno/Byrne (reedição), Rolling Stones (reedições em mini vinil), Kate Bush (reedições em mini vinil), DFA Remixes, Neil Diamond
3 Abril: Morrissey (edição local), Flaming Lips, Daft Punk (best of), PJ Harvey (DVD), The Dears, Erasure, The Organ, Mário Laginha
10 Abril: The Streets, I Am X, Calexico, Elefant, X Wife
Abril: Morrissey (edição nacional, dia 6), British Sea Power, Flaming Lips, Thievery Corporation, Moloko (best of), Garbage (best of), The Dears, Calexico, Pearl Jam, Pet Shop Boys, The Streets, Air, Red Hot Chilli Peppers, Tortoise, Prince, The Cure, PJ Harveyl, Scritti Politti, Protocol, Spiritualized, Madonna (DVD), Clear Static, Outkast, The Rakes, Maria Teresa de Noronha (caixa), Camané (DVD), Moloko (best of), Gun Shys, Cure, White Rose Movement
Maio: Pet Shop Boys, Clear Static, Only After Dark (compilação pós-punk), Radio 4, Boy Kill Boy, Garbage, Pearl Jam, Hot Chip
Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.
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