Marisa Monte “Infinito Particular”
Depois de um silêncio em nome próprio de seis anos (e três volvidos sobre a aventura partilhada com Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown nos Tribalistas), Marisa Monte regressa com dois álbuns editados em simultâneo, um deles explorando a sua composição e terrenos em volta (leia-se arranjos e artes finais), o outro dedicado aos universos do samba e o que está em seu redor, sob produção de Mário Caldato Jr. Em ambos a presença do “eu”, que se descodifica nos títulos dos dois álbuns é evidente, traduzindo em conjunto sinais de afirmação de uma das mais reconhecidas e criativas personalidades do Brasil musical actual. Infinito Particular é o definitivo mergulho interior de Marisa Monte nos seus espaços e sonhos, herdeiro natural de pistas já sugeridas em discos anteriores, mas nunca antes tão deslumbrantes. Esta é a obra-prima (até ao momento) de uma cantora / autora que domina hoje a arte da escrita, e que tomou como desafio a construção de um ciclo de canções em torno de um núcleo instrumental protagonizado por um quarteto particular (violino, violoncelo, fagote e trompete), distribuindo depois os arranjos por nomes de vulto como Philip Glass, Eumir Deodato e João Donato. Resultado? Um espantoso conjunto de canções, arranjos superiores, uma voz sedutora e um ciclo que promete ser um dos acontecimentos musicais do ano.
Marisa Monte “Universo Ao Meu Redor”
Correu tempos que o disco “dois” de Marisa Monte seria um álbum de sambas retirados do repertório da mítica Velha Guarda da Portela (que a cantora gravou quando estreou a sua etiqueta, a Phonomotor). O disco, agora editado, foge um pouco a essa ideia. É visível a herança desse colectivo (sobretudo na presença de uma composição de Casemiro Vieira), mas em Universo Ao Meu Redor descobrimos sobretudo um conjunto de novos e pessoais olhares sobre os espaços do samba e os que o rodeiam, convocando uma série de convidados (essencialmente autores) como Morais Moreira (que cede uma “sobra” dos Novos Baianos), Adriana Calcanhotto, Argemiro Patricínio, Paulinho da Viola (com um inédito) ou Jayme Silva. Presença de vulto, David Byrne partilha o microfone com Marisa Monte em Statue Of Liberty, dueto que estabelece uma ponte interessante entre a música do Brasil e o cosmopolitismo nova iorquino do ex-Talking Heads.
Broken Social Scene “Broken Social Scene”
Não estamos perante um “supergrupo”, ao jeito de uns Traveling Wilburys ou Power Station, mas não deixa de haver uma ideia mediática de colectivo de grandes figuras à volta dos Broken Social Scene onde encontramos, entre outros, num total de 15 elementos, músicos dos The Dears, The Stars, ou Metric, estabelecendo uma espécie de plataforma indie da nova geração de Toronto. O seu novo álbum foi alvo de intenso hype em finais do ano passado, justificado não só pelo estatuto global (e invulgarmente unânime) que as bandas canadianas viveram em 2005, como por representar também mais um espaço de colagem de ideias num limbo sinuoso entre o caos e a ordem que hoje parece estar na ordem do dia. Todavia, o conceito é aqui mais interessante que os resultados concretizados. O álbum respira o mesmo sentido de urgência de uns Arcade Fire ou Clap Your Hands Say Yeah, mas não lhe chega aos pés nas canções, nem nada que se lhe pareça. Há alguns bons momentos, é certo, mas não é por aqui que a história continuará a ser escrita. Nem mesmo no departamento canadiano…
Graham Coxon “Love Travels At Illegal Speeds”
Em tempos falávamos dele como uma espécie de parceiro fundamental, até mesmo contrapeso a Damon Albarn nos Blur. Os primeiros álbuns a solo foram peças de saborosa demarcação de identidade, manifestos de libertação, espaços de procura de novos rumos e desafios. Mas este novo disco enferma de um dos perigos maiores das vidas criativas solitárias quando, perante uma encruzilhada, ou se não toma o caminho certo, ou se fica ali, parado, sem resposta, à espera que o destino se resolva por si mesmo. Este álbum devolve a Graham Coxon algum nervo eléctrico, redescobre rebeldias de genética punk, mas aplica estas heranças numa escrita banal, numa espécie de busca ansiosa de caminhos distantes de pistas que já assinou nos dias em que era membro do grupo mais estimulante da Inglaterra pop/rock de 90. Curiosamente, só encontra a paz quando faz canções que lembram… os Blur!
Placebo “Meds”
O minimalismo de recursos, a insistência num mesmo formulário e a voz insistente de Brian Molko conduziram os Placebo a um beco de onde parecem cada vez menos capazes de fugir. Apesar de ocasionais pontuações electrónicas (que também não são aqui novidade), o álbum é um puré de mais do mesmo. Enjoativo e fácil. Para esquecer.
Também esta semana: The Trip (compilação criada por Jarvis Cocker), Gary Numan, Donald Fagen, Fugees, Moby (DVD) e David Bowie (DVD)
Brevemente
20 Março: Hot Chip, Beach Boys (Pet Sounds, edição dos 40 anos), Quantic, João Afonso, X Wife, Dead Combo, Prince, The Organ
27 Março: Monsieur Gainsbourg (tributo), White Rose Movement, Massive Attack (best of + DVD), Maximo Park (lados B), She Wants Revenge (edição local), Japan (best of + DVD), Yeah Yeah Yeahs, Depeche Mode (reedições), Tributo aos GNR
3 Abril: Morrissey (edição local), Flaming Lips, X-Wife, Daft Punk (best of), PJ Harvey (DVD), The Dears, Erasure
10 Abril: The Streets, I Am X, Calexico, Elefant
Abril: Morrissey (edição nacional, dia 6), British Sea Power, Flaming Lips, Thievery Corporation, Moloko (best of), Garbage (best of), The Dears, Calexico, Pearl Jam, Pet Shop Boys, The Streets, Air, Red Hot Chilli Peppers, Tortoise, Prince, The Cure, PJ Harveyl, Scritti Politti, Protocol, Spiritualized, Madonna (DVD), Clear Static, Outkast, The Rakes, Maria Teresa de Noronha (caixa), Camané (DVD), Moloko (best of), Gun Shys, Cure
Maio: Pet Shop Boys, Clear Static, Only After Dark (compilação pós-punk), Radio 4, Scissor Sisters, Boy Kill Boy, Garbage, Pearl Jam
Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.
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