Apesar de não ser um género ainda frequente na agenda das nossas editoras, a literatura de viagens já vai ocupando o seu espaço em algumas livrarias mais atentas (com uma muito recomendável colecção sobre cidades, da Asa, a liderar as apostas editoriais mais consequentes). Habituámo-nos a ler sobre lá fora, por quem por lá passou, das deambulações no Egipto de Eça às mil e uma viagens do sempre recomendável Bill Bryson. Para fazer o jogo no sentido inverso, ou seja, os que vêm de fora, mas em viagem cá dentro, espreite-se o crítico olhar sobre o Portugal pós-queda do Miguelismo por Felix Lichnowsky, num conjunto de retratos que faz do país por ocasião de uma visita em 1842. Príncipe de origem polaca, com vida feita na Silésia, chega a Portugal pouco depois da derrota dos setembristas às mãos do golpe de estado de Costa Cabral, antes portanto da convulsão política que se seguiu, a revolta da Maria da Fonte. Lichnowsky, cosmopolita e homem moderno no seu tempo, vê um Portugal campónio e atrasado, comentando, com discreta ironia, tudo o que viu, de uma audiência, quase informal, com suas Majestades, aos espaços públicos que visita em Lisboa, Sintra (a desilusão inicial, depois de tantos sonhos “Byronianos” lidos em outros relatos da época, e depois a confessa saudade na hora de partir), Queluz (onde diz ser o palácio “uma aglomeração de pavilhões sem gosto”), Mafra ou Alcobaça. É um interessante olhar exterior de um país em que vivemos 150 depois, mas onde alguns eventuais traços de provincianismo ainda persistem.
“Portugal: Recordações do Ano 1842”, de Félix Lichnowsky (Frenesi).
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