quarta-feira, dezembro 28, 2005

Viva os noivos!

Tim Burton não será exactamente um re-tratista de figuras humanas. Ou melhor: para ele, o corpo humano não é algo que possa ser "reprodu-zido", antes existe como matéria dispo-nível para ser transfigurada e, em última instância, re-inventada. Daí que, nos seus filmes, cada um possa ser sempre dúplice (Batman) ou, por razões tragica-mente poéticas, o corpo possa ter tanto de carne como de metal (Eduardo Mãos de Tesoura). Daí também a velha paixão de Burton por bonequinhos animados pelas velhas técnicas de stop motion: gesto a gesto, imagem a imagem, nascem movimentos, intenções, subtilezas e afectos, enfim, contam-se histórias. Foi assim em O Estranho Mundo de Jack (co-realizado com Henry Selick), já lá vão doze anos, volta a ser assim em A Noiva Cadáver (agora em colaboração com Mike Johnson).
Em boa verdade, não há grande diferença estrutural entre um filme como A Noiva Cadáver e qualquer outro título de Tim Burton aparentemente mais "humanizado". Desde logo, porque o realizador se mantém fiel aos "seus" actores — Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Albert Finney, Christopher Lee, etc. — e, claro, ao seu sempre surpreendente compositor, o fidelíssimo Danny Elfman. Depois, porque a história do noivo (de uma criatura humana) que fica comprometido com uma inesperada donzela (outrora humana, agora instalada no lado de lá... dos mortos) é mais uma irresistível variação sobre uma central questão "burtoniana": a da cândida a-moralidade do amor face à burocracia dos costumes e das leis de bom comportamento. O filme começa em tons muito sombrios, apenas porque é assim o país dos vivos — é preciso que os mortos comecem a cantar e a dançar para descobrirmos o prazer das cores...

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