
E não se julgue que estamos perante um objecto esotérico, vindo dos confins de uma qualquer produção "independente", distante das zonas mais populares do mercado. Nada disso: trata-se de um filme liderado por Steve Martin na tripla condição de actor, produtor e argumentista (aliás, adaptando uma novela de sua autoria), com a realização entregue a Anand Tucker. Shopgirl evolui num registo de subtil comédia dramática que tem todas as condições para atrair muitos espectadores — sobretudo aqueles que, erradamente, julgam que já não se fazem filmes deste género. Estamos, afinal, perante um retrato feliz, mas profundamente desencantado, de três vidas cruzadas — Steve Martin, Claire Danes e Jason Schwartzman — e dos poderes insólitos do amor nos seus movimentos interiores.
Infelizmente, e para confirmar o cepticismo da nossa visão inicial, o título português é mais uma lamentável prova de inadequação, transformando Shopgirl numa (ilusória) telenovela: Uma Rapariga Cheia de Sonhos. Aliás, se o filme é alguma coisa é, justamente, uma demarcação radical das facilidades humanas e da retórica formal dos modelos televisivos dominantes.