O Sound + Vision começa hoje a publicar as listas das suas escolhas deste ano. A televisão é a primeira área a considerar, não no sentido estrito das respectivas programações (entretenimento, informação, ficção, etc.), já que temos também em conta a alternativa do DVD (convém lembrar, a propósito, que 2005 foi um ano de multiplicação das hipóteses de download). Esta é também uma opção de balanço que sublinha a terrível "mediocratização" de que tem sido alvo o espaço televisivo português.
João Lopes
1. Os Blues (2:)
2. Auschwitz (BBC)
3. Jay Leno (SIC Comédia)
4. The L Word (Fox Life)
5. Nip/Tuck (Fox Life)
6. CSI (SIC + AXN)
7. Beck ao Vivo (MTV)
8. The 4400 (USA Network)
9. Oprah Winfrey Show (SIC Mulher)
10. Torneio de Roland Garros (Eurosport)
Toda a gente o sabe, quase ninguém o diz (sobretudo, a classe política e os governos de todas as tendências ideológicas recusam-se a enfrentar o facto): não haverá mudança sensível na televisão em Portugal enquanto a RTP não se assumir como alternativa aos canais privados. Alternativa, ou seja: modelos de ficção extra-telenovela + informação não contaminada pelos valores da "reality TV" + diversificação sistemática dos horários nobres. Por alguma razão, em sectores cada vez maiores do público (incluindo jovens que são menos patetas do que muitos programas e anúncios os pintam...), se está a desenvolver um crescente efeito de saturação face ao modelo generalista dominante, modelo que, em última instância, conseguiu impor uma cultura de valores unicamente económicos. É essa, aliás, a grande questão cultural que passa para 2006: até quando vamos ter a televisão a organizar a agenda política do país, a impor a estreiteza dramática e afectiva das suas ficções, enfim, a transformar tudo e todos num alarido "futebolístico" que menospreza regularmente os valores humanistas? Será que os candidatos à Presidência da República vão conseguir passar por isto tudo sem proferir, ao menos, uma palavra de dúvida? J.L.
Nuno Galopim
1. Little Britain (:2)
2. The 4400 (USA Network)
3. Sete Palmos de Terra (:2)
4. Auschwitz (BBC)
5. Philip Glass: Looking Glass (Arte)
6. Os Blues (:2)
7. Micahel Palin - Himalaya (:2)
8. Snu (SIC)
9. Por Outro Lado (:2)
10. Star Trek: Enterprise (Paramount)
Foi um ano de televisão mais vezes ligada para ver DVDs que a programação dos canais que a rede nos oferece. A invasão do pequeno ecrã por telenovelas, "etupidificality" shows e treinadores de futebol exige alternativa. E como o zap dá mais do mesmo a cada novo canal (salvo pontualíssimas excepções), ou se desliga (e um disco, um livro ou uma ida ao cinema resolvem a coisa) ou entra DVD no leitor. De resto, muita da ficção televisiva que vi este ano chegou via DVD (até mesmo séries exibidas entre nós).
Música na televisão? Não existe! MTV entregue à reality TV, música encostada a um canto, e mesmo assim... má, básica e sempre a mesma. VH-1 feito nostalgia barata. MCM inenarrável. SIC Radical... desculpem mas estou para lá do target. Top+ da RTP 1 insuportável e frouxo, encostado à receita fácil do que vende e vai vender. Magazines na SIC Notícias transformados em montra dos famosos.
A informação televisiva tem hoje melhor e mais séria concorrência imediata via Internet. Quando o clube não-sei-quantos-ense entra em antena aos nove minutos de noticiário, ou não há notícias, ou algo muito perverso comanda quem as escolhe.
Esta lista de escolhas mostra como o DVD nos permite agora ver televisão de outra maneira. Nos últimos dez anos, as rádios perderam audiências com o advento de alternativas, e hoje quase parecem confinadas à escuta ao voltante. As televisões ainda chamam multidões, mas uma sensação de enjoo começa a dominar os espíritos mais críticos... N.G.
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