Terceiro dia de balanços do ano no Sound + Vision. Hoje em foco os livros, num olhar que não se limita à edição livreira portuguesa.
João Lopes
1. Gilead, de Marilynne Robinson (Farrar, Straus & Giroux)
2. Dias Exemplares, de Michael Cunningham (Gradiva)
3. The History of Love, de Nicole Krauss (W.W. Norton)
4. Lunar Park, de Bret Easton Ellis (Teorema)
5. Break, Blow, Burn, de Camille Paglia (Pantheon)
6. Poemas, de Pier Paolo Pasolini (Assírio & Alvim)
7. Black Hole, de Charles Burns (Pantheon)
8. Aquilo que Eu Amava, de Siri Hustvedt (Asa)
9. Crónicas-Volume I, de Bob Dylan (Verbo)
10. Who the Hell's in It, de Peter Bogdanovich (Faber & Faber)
Uma boa notícia, para contrariar os fazedores de desgraças, é que não é verdade que a Internet tenha morto a arte da escrita e o gosto da leitura. Mais do que isso: também é falso que o modelo clássico do romance esteja decadente ou condenado. Por vezes, o problema dos livros é não terem espaço (mediático) para, ao menos, existirem. Aspecto revelador: um dos desequilíbrios fulcrais do espaço cultural português decorre da marginalização televisiva dos livros. De facto, as nossas televisões são capazes de abrir telejornais gritando que vem aí o novo Harry Potter, aplicando o mesmo entusiasmo patético com que nos anunciam que o clube de futebol A ou B mudou de treinador... mas, incluindo a RTP (no seu estatal estatismo), quase não têm o mais pequeno gesto para dar visibilidade ao simples facto de, mal ou bem, continuar a existir uma edição cada vez mais diversificada e, ao que parece, público interessado nos respectivos títulos. Exemplos? São quase diários... Mas como é possível que ninguém tenha dedicado a devida atenção ao lançamento dos volumes de À Procura do Tempo Perdido, de Marcel Proust, na magnífica tradução de Pedro Tamen (ed. Relógio de Água)? J.L.
Nuno Galopim
1. Dias Exemplares, de Michael Cunningham (Gradiva)
2. Rip It Up & Start Again, de Simon Reynolds (Faber & Faber)
3. A Linha da Beleza, de Alan Hollinghurst (Asa)
4. This Ain’t No Disco, de Jennifer McKnight-Trontz (Thames & Hudson)
5. Margrave Of The Marshes, John Peel (Bantam)
6. Low, Hugo Wilken (Continuum)
7. Ghost Town, de Patrick McGrath (Bloomsbury)
8. Forty Signs Of Rain, de Kim Stanley Robinson (Harper Collins)
9. Notícia do Terramoto, de Cláudio da Conceição (Frenesi)
10. D. Pedro V, de Maria Filomena Mónica (Círculo de Leitores)
Um ano de leituras não se faz apenas da novidade, muitos títulos anteriores a Janeiro de 2005 a marcar presença nos farrapos de tempo para ler. Esta é contudo uma lista de livros deste ano, partilhada entre a ficção e a escrita musical. Entre reflexões sobre um sonho americano feito pesadelo e olhares com sabor de ficção científica (mas cada vez mais travo a realidade) de desvarios climáticos a caminho, a opção por uma ficção onde a realidade serve de solo firme do qual crescem personagens e histórias.
A produção livreira nacional teve bons episódios este ano. Paul Auster firmou um público e os seus títulos estão praticamente todos em escaparate. Musil redescoberto. Stefen Zweig idem, aspas. Uma belíssima colecção sobre os reis de Portugal no Círculo de Leitores. E boa resposta em várias frentes no assinalar dos 250 anos do terramoto de 1755. Bono e Dylan a mostrar que há público para escrita musical em livro. E uma boa história do cinema na Plátano, a tempo e horas. Boa aposta da Asa na série sobre cidades, não se percebendo contudo porque escolheu para o Natal o livro sobre Sidney, e não o de Ruy Castro sobre o Rio de Janeiro ou mesmo o de Patrick McGrath sobre Nova Iorque… Os 25 anos da morte de Lennon passaram a Leste de quem edita por estas bandas… E a edição de La Possibilite d’une île, de Huellebeq, já tarda…
Apesar de alguns bons momentos, o ano foi literalmente afogado em romance histórico de terceira categoria, num chorrilho de vulgaridades policiais transportadas para os tempos da Maria Cachucha. N.G.
MAIL