domingo, dezembro 18, 2005

Rock Rendez Vous: 25 anos depois

Abriu faz hoje 25 anos. Era na rua da Beneficência ao Rego, onde antes morava o antigo cinema Universal, espaço que dava lugar a um palco inédito entre nós, muito entusiasmo e uma programação regular que depressa criou o seu público fiel. O Rock Rendez Vous foi determinante na afirmação e evolução da cena pop/rock portuguesa, que não teria conhecido o boom que se viveu em 80 sem aquela catedral de vida musical diária, revelando novos talentos, confirmando outros, e abrindo portas a bandas marcantes do panorama alternativo internacional de então (entre os quais os Teardrop Explodes, Echo & The Bunnymen, The Sound, Killing Joke, 999 ou Chameleons).
Em dez anos fizeram-se ali 1500 concertos, seis concursos de música moderna (que revelaram bandas como os Mler Ife Dada, Pop Dell’Arte, Sitiados, Mão Morta, Lobo Meigo, Requiem Pelos Vivos, Ritual Tejo, entre muitos outros) e criou-se uma independente associada à casa e suas manifestações, a Dansa do Som, que editava os discos dos vencedores do concurso (o prémio), álbuns de registos ligados ao clube e algumas apostas editoriais estimuladas por importantes presenças em palco.
O Rock Rendez Vous fechou em 1990. A concorrência das novas discotecas (porque, quando não havia concertos, o RRV funcionava como discoteca, e que discoteca!) e a subida de cachets das bandas, que se deveu ao investimento das autarquias em programações musicais mais aparatosas com a benção dos dinheiros da Europa, foram letais para a casa que não teve outra saída senão o fecho das portas.
A verdade é que, apesar de um Johnny Guitar activo nos anos 90 e mais uma ou outra casa pontual, nunca mais Lisboa teve um clube de rock como o RRV, que prestou determinantes serviços ao Portugal musical de 80. E a música portuguesa posterior a 90 reflecte esse vazio, menos inventiva (apesar das excepções), menos activista (de forma consequente e não para meia dúzia de amigos) e, claramente, com muito menos bandas a entrar em cena ano após ano...
Hoje celebram-se os 25 anos do Rock Rendez Vous, e mais que fazer nostalgia das grande noites ali passadas, importa vincar como Lisboa não tem há 15 anos um clube de rock activo e interventivo como aquele foi. Temos túneis, vamos ter casinos, teatro de revista, muitas luzinhas de Natal... Houve, há um ano, uma ideia, quase morta à nascença, de fazer do Cinema São Jorge um Rock Rendez Vous 2.0... Convenhamos que não era a melhor saída nem para um clube de rock nem para uma das melhores e mais desejadas salas de cinema da capital. Mas o tal rockódromo (assim lhe chamava o hoje Presidente Sampaio) prometido ao voto jovem quando o político apontava azimute à Câmara, continua um sonho por cumprir.

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