sexta-feira, dezembro 02, 2005

"Oliver Twist" reinventado por Polanski

Que factor pode aproximar os heróis de Roman Polanski e também as convulsões das suas tragédias? O medo? A solidão? Os fantasmas de qualquer ordem política e moral? Tudo isso, mas também (através disso tudo) o pavor de não ter lugar no mundo — de o mundo se fechar numa prisão de onde deixou de ser possível sair. Lembremo-nos, por exemplo, de Catherine Deneuve, em Repulsa (1965), de Harrison Ford, em Frenético (1988), ou ainda, inevitavelmente, de Adrian Brody na teia nazi de O Pianista (2002).
Obviamente, Oliver Twist surge no prolongamento de todo esse assombramento: um retorno à obra de Charles Dickens feito, por um lado, a partir de um respeitoso regresso à tradição realista britânica e, por outro lado, relançado como a imensa odisseia de um ser desamparado à procura de uma referência paternal e, por extensão, uma paisagem familiar. Além do mais, Polanski descobriu no magnífico Barney Clark (12 anos completados no passado dia 25 de Junho) a imagem certa para o seu Oliver: uma figura de austera comoção e tocante vulnerabilidade, decididamente o contrário de qualquer criança "atómica" pronta a ser transfigurada por algum efeito especial mais espalhafatoso.
Além do mais, é bom que se diga que Oliver Twist é um exemplo bem vivo de uma lógica de produção genuinamente europeia: coproduzido por Grã-Bretanha, França e República Checa, aqui está a prova real de que a indústria europeia também sabe lidar com empreendimentos fisicamente grandiosos e de enorme complexidade logística. E isto não por mera ostentação de meios, mas porque tal produção está exemplarmente ao serviço das necessidades dramáticas e narrativas de Oliver Twist — trabalhos como a cenografia de Allan Starski e a fotografia de Pawel Edelman têm perfil "obrigatório" de nomeações para Oscar.
* Sites oficiais Oliver Twist: em francês e inglês
* Texto integral de
Oliver Twist, de Charles Dickens
* Charles Dickens (1812-1870):
obra integral

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