
Obviamente, Oliver Twist surge no prolongamento de todo esse assombramento: um retorno à obra de Charles Dickens feito, por um lado, a partir de um respeitoso regresso à tradição realista britânica e, por outro lado, relançado como a imensa odisseia de um ser desamparado à procura de uma referência paternal e, por extensão, uma paisagem familiar. Além do mais, Polanski descobriu no magnífico Barney Clark (12 anos completados no passado dia 25 de Junho) a imagem certa para o seu Oliver: uma figura de austera comoção e tocante vulnerabilidade, decididamente o contrário de qualquer criança "atómica" pronta a ser transfigurada por algum efeito especial mais espalhafatoso.
Além do mais, é bom que se diga que Oliver Twist é um exemplo bem vivo de uma lógica de produção genuinamente europeia: coproduzido por Grã-Bretanha, França e República Checa, aqui está a prova real de que a indústria europeia também sabe lidar com empreendimentos fisicamente grandiosos e de enorme complexidade logística. E isto não por mera ostentação de meios, mas porque tal produção está exemplarmente ao serviço das necessidades dramáticas e narrativas de Oliver Twist — trabalhos como a cenografia de Allan Starski e a fotografia de Pawel Edelman têm perfil "obrigatório" de nomeações para Oscar.
* Sites oficiais Oliver Twist: em francês e inglês
* Texto integral de Oliver Twist, de Charles Dickens
* Charles Dickens (1812-1870): obra integral