John, a biografia do ex-Beatle pela sua primeira mulher, Cynthia Lennon, está a revelar-se um dos maiores sucessos editoriais da Inglaterra de finais de 2005. Entre uma multidão de títulos dedicados a Lennon, editados na voragem das imediações de uma nova efeméride redonda (o 25º aniversário da sua morte, a assinalar dia 8), o livro destaca-se pelo ponto de vista distinto que oferece perante a concorrência nos escaparates. Cynthia, que já tinha publicado uma biografia azeda nos anos 70, depurou amarguras e dores antigas, e leva às 400 páginas deste livro uma colecção de memórias das quais não apagou a sua visão necessariamente próxima e emotiva.
O livro começa por nos descrever como Cynthia Lennon recebeu as notícias da morte do ex-marido e de como as fez chegar ao seu primeiro filho Julian (desdramatizando supostas interferências na viagem a Nova Iorque que este imediatamente fez, juntando-se então ao meio-irmão Sean e a Yoko Ono). Em flashback, mergulhamos depois numa viagem pelas memórias mais antigas de Lennon, começando nos dias em que se encontraram nas cadeiras da escola de artes (Lennon alheado dos assuntos, Cynthia entusiasmada e dedicada) até à bola de neve de eventos que fizeram dos Beatles a mais popular banda do mundo. Cynthia recorda com pormenores “familiares” as primeiras actuações de Lennon, McCartney e Harrisson, a odeisseia dos Quarrymen, a transformação do grupo nos Beatles, as entradas (e saídas) de cena de Stuart Sutcliffe e Pete Best, a chegada de Ringo, de Brian Epstein, de George Martin. Mas também as cenas de difícil vida doméstica de um John cedo afastado dos pais, entregue à rígida e pouco entusiamada tia Mimi, que até tarde resistiu à "maluquice" rock’n’roll do sobrinho.
John é de leitura fácil e agradável. Cynthia não quer concorrer ao Pulitzer, antes, contar a sua versão de uma história que viveu tão próxima de Lennon como mais ninguém exterior aos Beatles, entre finais de 50 e a chegada de Yoko Ono. É certo que temos de contar com o filtro opinativo de quem viveu uma etapa com paixão e outras sob amargura, mas a essência dos momentos de descoberta na Liverpool de inícios de 60, em Hamburgo e, mais tarde, o mundo, conhecem aqui uma perspectiva que nenhum outro biógrafo pode dar.
Além do texto, o livro recorda algumas fotos da colecção privada de Cynthia Lennon. E alguns dos desenhos que John lhe enviava por carta nos dias em que o romance era quase tão importante como a música dos Beatles.
John tem já edição em capa dura (capa mole apenas disponível nas lojas Books de aeroporto), sem tradução portuguesa ainda anunciada.
MAIL