
N.G.: O rótulo "genial" é frequentemente usado, com excesso de facilidade, nas artes, para destacar quem saiu invulgarmente da norma. Foi Lennon genial? Nos Beatles foi força determinante. A solo teve carreira irregular, mas fez da sua presença, da sua imagem, uma força política como raros ícones da sua geração o conseguiram. Reduzir Lennon à sua música é escutar a realidade em mono. Confiná-lo a um símbolo de época, idem idem, aspas aspas. Mesmo 25 anos depois, John é-nos ainda demasiado familiar para o encararmos sem a carga emotiva com que a História um dia o escreverá nas páginas do século XX. Por enquanto, é a morsa...
J.L.: Uma das heranças de qualquer mito decorre da exigência ética com que nos convoca: como vivermos a sua memória sem o simplificarmos e, acima de tudo, nestes tempos de tanta obscenidade mediática, sem o reduzirmos a um ícone mais ou menos publicitário? Digamos que Lennon é alguém que nos ajuda nisso: as muitas convulsões e contradições da sua vida ensinam-nos, primeiro que tudo, a não reduzir ninguém a um "símbolo" ou uma "mensagem". Doing our best, John.