sábado, dezembro 03, 2005

"Greed" (1924): a obra-prima amputada

Chama-se Greed e é um daqueles clássicos absolutos que, regra geral, se consegue ver de cinco em cinco anos (ou mais, já que a "distracção" das televisões constitui uma ajuda preciosa...) — passa na Cinemateca, hoje, às 15h30.
Realizado em 1924, por Eric von Stroheim (1885-1957), Greed ficou para a história como um dos casos mais extremos de incompatibilidade entre os desígnios de um autor e o respectivo estúdio de produção. Dito de outro modo: para traçar o retrato, realista e delirante (apetece dizer: de um realismo delirante), da avareza e dos efeitos perversos do ouro nas relações humanas, Stroheim, um dos génios austríacos que emigraram para Hollywood, filmou quantidades imensas de material. A sua ambição era, por assim dizer, sobre-humana: através de espantosos actores como Zasu Pitts, Gibson Gowland e Jean Hersholt, tratava-se de refazer as emoções épicas do romance que adaptava — McTeague, de Frank Norris (1870-1902) — conseguindo um filme que fosse, de uma só vez, uma síntese de todas as artes e uma exaltação da experiência singular do cinematógrafo. Na prática, semelhante ambição deu origem a um objecto "selvagem": um filme de 42 bobinas (mais de 8 horas!) que, segundo rezam as crónicas, apenas foi projectado uma vez, a 12 de Janeiro de 1924, numa sessão privada nos estúdios da Metro Goldwyn Mayer.
Depois, a história regista também esse paradoxo: por um lado, e por ordem do estúdio, Greed foi drasticamente amputado, passando a circular numa versão de cerca de duas horas; por outro lado, mesmo assim, o filme resiste como uma proeza admirável no interior da história convulsiva do período mudo do cinema e, em particular, das primeiras décadas de Hollywood. Ironia adequada: Greed passa, na Cinemateca, integrado num ciclo (que decorre até final de Dezembro) que dá pelo nome de "Os Grandes Estúdios: Metro Goldwyn Mayer".
* Sobre o contexto histórico de Greed
* Texto integral do romance
McTeague

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