A CML aprovou o financiamento ao filme sobre fado que o realizador espanhol Carlos Saura vai rodar, conclusão de uma trilogia sobre canções urbanas do século XX. Depois do chumbo na última reunião, os vereadores da oposição optaram desta vez pela abstenção, não sem deixar algumas críticas expressas, entre elas a contestação de se entregar um filme sobre fado a um realizador espanhol, já levantada por Maria José Nogueira Pinto na reunião anterior, e defendida agora por Manuel Maria Carrilho, em inesperado acesso de provincianismo. O projecto de Saura, que conta no seu currículo com filmes como Flamenco (1995) e Tango (1998, então candidato a um Óscar), tem Carlos do Carmo como supervisor musical, Bernardo Sassetti como responsável pela banda sonora, Rui Viera Nery como consultor científico, Eduardo Serra como director de fotografia e juntará no elenco nomes como os de Mariza, Camané, Argentina Santos, José Fontes Rocha e Ricardo Rocha.
O apoio da CML, na ordem dos 1,21 milhões de euros será distribuído em fases, até Dezembro de 2006. A Câmara de Lisboa comprometeu-se também a prestar apoio logístico ao filme e a participar na sua divulgação, muito concretamente através da disponibilização de espaços publicitários. O Instituto Português do Turismo e alguns privados assegurarão os restantes dinheiros e necessidades. Segundo avançou Amaral Lopes, do PSD ao DN, a CML terá direitos sobre o filme, tanto na exibição em sala como em DVD. É justo!
Reagindo a esta notícia, Rui Pereira (profissional há muito ligado à exibição cinematográfica), levanta algumas questões: "Não pondo em causa o valor do filme (está recheado de figuras do fado e da música) não causa estranheza que a Câmara Municipal participe como co-produtora(pelos vistos com 1/3 do orçamento), quando o mesmo já tem vários outros co-produtores de várias nacionalidades e inclusivé já tem contrato de distribuição assegurado para Portugal?
Ou seja, os tais «direitos sobre a obra, desde a exibição em cinema às futuras edições em DVD» são o quê? São os 10% de que fala o Carrilho? Então os outros 40%-50% (percentagem normal nestes negócios)? ficam para o distribuidor em Portugal, claro. Mas esse distribuidor tem de pagar para ter acesso a esses direitos, certo?
Ou seja, com tanta gente a co-produzir e a participar no filme, é aceitável que o dinheiro público pague tanto e só fique com 10% da bilheteira e dos DVDs (porque é disso que estamos a falar)? Aliás, fará sentido de todo a Câmara entrar com dinheiro? Com que objectivo? Promover a cidade, o fado, ou para ganhar dinheiro? Não parece haver aqui dinheiro a mais circular?
E isto leva-nos à segunda questão, mais de fundo.
Como é que se justifica que a Câmara, que diz a toda a gente que não tem dinheiro para nada, que está em ruptura orçamental, que não tem dinheiro para recuperar a casa do Garrett (não é a mesma coisa, eu sei, mas é um exemplo...), esbanje assim 1,21 milhões de euros (242 mil contos), mais os circuitos de mupis, etc?"
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