Estreia hoje nas salas o documentário Rize, de David LaChapelle, que teve primeira exibição entre nós na edição deste ano do DocLisboa.
N.G.: Numa altura em que o mainstream musical apontado ao público mais jovem está invadido por um hip hop de pronto-a-vestir, traçado para o gosto fácil e consumo rápido do espectador de canais musicais e ouvinte de rádios “urbanas”, tal e qual recordamos o inenarrável rock FM de 80, nada como um olhar sadio e sério por espaços de nos mostram como o hip hop ainda vive verdades em consonância com a sua identidade cultural e as suas raízes sociais. Rize, de David LaChapelle é, mais que apenas um documentário sobre o krumping, uma dança nascida na rua, o retrato de cenas da vida real num espaço de exclusão, em cenário em bairros na zona Sul de Los Angeles. A dança é um veículo canalizador de ansiedades, raivas e frustrações e procura ser uma saída positiva, alternativa e sem sonhos de mainstream hollywoodesco. A dança e os corpos que a tornam movimento (ao som de hip hop) são, assim, ponto de partida para um olhar, que se não quer comentador nem de tese. Somos confrontados com, e nada mais, um desfile de cenas da vida real de uma comunidade essencialmente negra, com histórias vividas na proximidade, ou mesmo na primeira pessoa, de assaltos, assassinatos, prisões e famílias destroçadas. Tommy The Clown, que se auto-intitula pai da ideia, levou a música e os movimentos à ruas e tribos do bairro. Uma dança frenética, feita de movimentos rápidos, espasmódicos, como que a sacudir pelo corpo os males da vida real. Uma dança feita de gestos e contorsões que lembram, também, alguns rituais tribais africanos (paralelo de resto realçado no filme). Uma dança que se transforma em escape a outras confrontações em batalhas em pavilhões para bairro ver e votar.
Na sequência de duas curtas metragens realizadas pelo próprio LaChapelle entre 2003 e 2004, nas quais tomava pela primeira vez contacto com o krumping e a sua génese como fenómeno social, Rize torna visível uma realidade cultural nascida sob banda sonora hip hop. Mas, e como um dos krumpers deixa claro, o filme não quer tornar mainstream um fenómeno marginal e real: “Não queremos ser palhaços do hip hop talhado à medida”... Ou seja, não se espere aqui as doses de glamour para correntes de ouro, mulatas e carros desportivos para adolescente ver, que hoje fazem dos telediscos de algum hip hop uma farsa que a génese verdadeira do género não adivinhava. Rize não é o 3 Feet High And Rising cine-hip hop!. Nem quer ser!... Mas mostra, como de certa maneira o grime fez recentemente para o que de igualmente diferente e genuíno estava a brotar das ruas de Londres, como o hip hop ainda é um espaço capaz de traduzir, pela música e fenómenos a si associados, um contexto de espaço, tempo e das vidas humanas que nele habitam. Sem dúvida, um dos filmes do ano!
J.L.: Decididamente, não é apenas em algumas intervenções críticas que podemos encontrar um imenso desencanto e desilusão pela saturação, mercantilização e, hélas!, profundo reaccionarismo de muitas formas do hip hop contemporâneo. Pelos vistos, essa é uma questão que, antes do mais, preocupa os criadores que insistem em procurar a verdade visceral de um hip hop ligado a vivências concretas, não para ser embrulhado em celofane MTV. Assim acontece com o fotógrafo/cineasta David LaChapelle que, filmando nos bairros pobres de Los Angeles, nos propõe, em Rize, uma vibrante visão documental dos mais recentes fenómenos de "clowning" e "krumping", sem nunca perder de vista a dimensão concreta das pessoas e dos lugares. Viva o documentário! (e que o mercado português se mantenha atento a manifestações tão genuínas e empolgantes como esta).
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N.G.: Numa altura em que o mainstream musical apontado ao público mais jovem está invadido por um hip hop de pronto-a-vestir, traçado para o gosto fácil e consumo rápido do espectador de canais musicais e ouvinte de rádios “urbanas”, tal e qual recordamos o inenarrável rock FM de 80, nada como um olhar sadio e sério por espaços de nos mostram como o hip hop ainda vive verdades em consonância com a sua identidade cultural e as suas raízes sociais. Rize, de David LaChapelle é, mais que apenas um documentário sobre o krumping, uma dança nascida na rua, o retrato de cenas da vida real num espaço de exclusão, em cenário em bairros na zona Sul de Los Angeles. A dança é um veículo canalizador de ansiedades, raivas e frustrações e procura ser uma saída positiva, alternativa e sem sonhos de mainstream hollywoodesco. A dança e os corpos que a tornam movimento (ao som de hip hop) são, assim, ponto de partida para um olhar, que se não quer comentador nem de tese. Somos confrontados com, e nada mais, um desfile de cenas da vida real de uma comunidade essencialmente negra, com histórias vividas na proximidade, ou mesmo na primeira pessoa, de assaltos, assassinatos, prisões e famílias destroçadas. Tommy The Clown, que se auto-intitula pai da ideia, levou a música e os movimentos à ruas e tribos do bairro. Uma dança frenética, feita de movimentos rápidos, espasmódicos, como que a sacudir pelo corpo os males da vida real. Uma dança feita de gestos e contorsões que lembram, também, alguns rituais tribais africanos (paralelo de resto realçado no filme). Uma dança que se transforma em escape a outras confrontações em batalhas em pavilhões para bairro ver e votar.
Na sequência de duas curtas metragens realizadas pelo próprio LaChapelle entre 2003 e 2004, nas quais tomava pela primeira vez contacto com o krumping e a sua génese como fenómeno social, Rize torna visível uma realidade cultural nascida sob banda sonora hip hop. Mas, e como um dos krumpers deixa claro, o filme não quer tornar mainstream um fenómeno marginal e real: “Não queremos ser palhaços do hip hop talhado à medida”... Ou seja, não se espere aqui as doses de glamour para correntes de ouro, mulatas e carros desportivos para adolescente ver, que hoje fazem dos telediscos de algum hip hop uma farsa que a génese verdadeira do género não adivinhava. Rize não é o 3 Feet High And Rising cine-hip hop!. Nem quer ser!... Mas mostra, como de certa maneira o grime fez recentemente para o que de igualmente diferente e genuíno estava a brotar das ruas de Londres, como o hip hop ainda é um espaço capaz de traduzir, pela música e fenómenos a si associados, um contexto de espaço, tempo e das vidas humanas que nele habitam. Sem dúvida, um dos filmes do ano!
J.L.: Decididamente, não é apenas em algumas intervenções críticas que podemos encontrar um imenso desencanto e desilusão pela saturação, mercantilização e, hélas!, profundo reaccionarismo de muitas formas do hip hop contemporâneo. Pelos vistos, essa é uma questão que, antes do mais, preocupa os criadores que insistem em procurar a verdade visceral de um hip hop ligado a vivências concretas, não para ser embrulhado em celofane MTV. Assim acontece com o fotógrafo/cineasta David LaChapelle que, filmando nos bairros pobres de Los Angeles, nos propõe, em Rize, uma vibrante visão documental dos mais recentes fenómenos de "clowning" e "krumping", sem nunca perder de vista a dimensão concreta das pessoas e dos lugares. Viva o documentário! (e que o mercado português se mantenha atento a manifestações tão genuínas e empolgantes como esta).
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