domingo, outubro 09, 2005

Discos da semana, 10 Outubro

Ladytron “The Witching Hour”
N.G.: Ao terceiro disco os Ladytron apuram definitivamente uma noção de pop electrónica sombria e tensa, não necessariamente depressiva. Mais de bruxedo, como o título sugere… Com um soberbo lote de canções nas mãos, assimilam da melhor forma as lições colhidas em dois belos álbuns de proposta de uma identidade herdada de pioneiros de finais de 70 ou, como poderíamos dizer, Kraftwerk lidos sob filtro Human League (fase Travelogue) e Gary Numan. Mas fazer dos Ladytron um mero fenómeno revisionista da electro pop de finais de 70 é grave erro a que o novo álbum responde com um evidente sentido de actualidade, injectando na música do quarteto de Liverpool marcas de respiração rock’n’roll que dominam o presente, e um tom de ansiedade e ameaça que nos é quotidiano. Um belíssimo álbum pop para gostos exigentes, que finalmente poderá fazer do grupo uma entidade merecedora de lugar de destaque em nome próprio, sem as forçadas (e talvez equívocas) muletas romo e electroclash que assombraram a identidade respectivamente de 604 e Light & Magic.

Mobius Band “The Loving Sounds Of Static”
N.G.: Uma série de edições recentes, das quais as mais merecedoras de destaque apontam a estreia dos Midnight Movies ou o novo single dos White Rose Movement, parece querer devolver ao mapa pop as lógicas de som e imagem dos shoegazers de finais de 80 e inícios de 90. De origem norte-americana, a Mobius Band estreia-se em álbum depois de uma promissora série de EPs e revela, mais que nunca, intenções de exploração do legado indie rock de há 15 anos, doseando oportunas electrónicas entre a electricidade a seis cordas. Um belo álbum de estreia de uma banda a acompanhar com atenção.

Chumbawamba “A Singsong And A Scrap"
N.G.: Os anarcas de serviço à pop já andaram mais inspirados. Depois de terem assinado grandes discos em meados de 90, e de terem sentido o sabor da fama com Tubthumping, regressam com um álbum pastoral tradicional (pontualmente quase folk), mais ao jeito de uns Belle & Sebastian que da memória pop bem vitaminada, feita de palavras aguçadas e entrelaçada com electrónicas da sua discografia de 90. Agradável, seguro, sóbrio, mas… com aquele sabor a bolacha de água e sal sobre a qual alguém se esqueceu de pôr o doce de morango…

The Vicious Five “Up On The Walls”
N.G.: Parece haver de facto uma cena underground feita de rock’n’roll a nascer em Lisboa. E parece que é mais interessante e vitaminada em ideias novas que a de Coimbra… Mas, depois do recente tiro ao lado dos Loosers (belo EP de estreia, inconsequente e deslaçado LP editado há uma semana), outra desilusão vem assinada pelos Vicious Five. Musicalmente até são entusiasmantes, capazes de construir melodias e teias para seis cordas e som, muito som… Mas a voz… Berra! Berra, e não parece saber existir de outra maneira. E danifica todo um álbum potencialmente bem interessante, ao confundir raiva inconsequente e dramaticamente vazia com sentido de urgência, de revolta, ou do que quer que seja.

The Young Gods “Twenty Years 1985-2005”
N.G.: Os 20 anos de actividade de uma das mais entusiasmantes bandas europeias nascidas de terreno underground, com obra edificada em híbridos estruturados sob tronco rock, mas atentos a fenómenos diversos, do industrial ao noise, do electro às texturas ambientais, revistos em CD duplo. Uma música com um invulgar sentido de dramaticidade e espaço, em tempo de revisão e balanço. Com direito a um inédito, Secret, que sublinha as obsessões pós-industriais (paralelas aos Nine Inch Nails, mas de personalidade própria) dos últimos discos.

Françoiz Breut “Une Saison Volée”
N.G.: Terceiro álbum de uma cantora francesa, que se assume essencialmente como intérprete numa obra que, apesar de feita na sua língua de origem, aponta sobretudo azimutes e referências a escolas anglo-americanas. A presença de Joey Burns (Calexico) num álbum onde afloram pontualmente o inglês, o italiano e o espanhol, vinca essa atenção a outras paragens que a voz da cantora e os arranjos que a enquadram transformam em quadros sem geografia concreta, mas espantosa capacidade de sedução.

Why? “Elephant Eyelash”
N.G.: As raízes hip hop são cada vez mais difíceis de identificar nas bases de uma obra que, disco a disco, cada vez mais surpreende e entusiasma. Mantém-se as lógicas de colagem, as estratégias de composição fragmentada, mas a canção é o destino inevitável, num álbum de sabor a América profunda. Nem rural nem urbana. Antes, um lugar feito da reunião de pedaços representativos de uma cultura com clara raiz numa geografia humana concreta, que aqui se manifesta contemporânea e capaz de se reinventar.

Vários “Can Take You Anywhere You Want”
N.G.: O título é quase a definição da ideologia que comandou os primeiros cinco anos da demanda musical protagonizada pela Bor Land, que neste intervalo de tempo se afirmou como uma das mais presentes, regulares e interventivas das independentes portuguesas. A compilação que assinala o quinto aniversário colhe episódios fundamentais, semeia mais ideias e demonstra que, mesmo apontada a diversos azimutes, não fecha a porta à liberdade de quem convida a juntar-se à família. Um retrato do Portugal musical desta década será sempre incompleto sem contar com o que esta compilação significa.

Também esta semana: John Lennon (duas reedições), Fiona Apple (sem edição local prevista), Paul Weller, Killing Joke, Yello (duas reedições), Prodigy (best of), New Pornographers, Arab Strap, Babyshambles, John Cale (reedição), Robert Wyatt (ao vivo), Elbow

Brevemente

17 Outubro: Depeche Mode, Kátia Guerreiro, Animal Collective, Soulwax (remisturas), Franz Ferdinand (DVD), John Lydon (antologia), Stevie Wonder, Boards Of Canada, Bruce Springsteen (DVD), Gang Of Four (regravações), Outkast, Prodigy (best of), Anja Garbarék, New Order (dois DVDs, um de telediscos, outro com um documentário), Tributo a John Peel, Moondog (reedição), Nils Peter Molvaer
24 Outubro: David Fonseca, Safety Scissors, Múm (reedição), Murcof, Dirty Three, Deep Purple, Soulwax (remisturas), Her Space Holiday, Phil Manzanera

Outubro: Camané (DVD), David Fonseca, Clã (DVD), Blondie (best of), Madredeus (DVD), Louis XIV, We Are Scientists, Tributo aos 40 anos de Rubber Soul, T-Rex (caixa), Cardigans, Kraftwerk (DVD), DK7, Mafalda Arnauth, The National (edição local), Scout Niblett, Spoon (edição local), Gris Gris, Electraleane, Lisa Gerrard (banda Sonora), Limousine, Fiery Furnaces, El Presidente, Thumbsucker BSO, Vashti Bunyan, Luomo, Gang Gang Dance, Caribou (DVD), John Zorn Electric Masada, The Rakes, Jim White
Novembro: Da Weasel (ao vivo), GNR (tributo com bandas de hip hop), Moby (DVD), Live 8 (DVD), Kate Bush, Human League (remisturas originais), David Bowie (3CD), Kasabian (DVD), Madonna, Abba (integral em caixa), A-ha, Muse, Patti Smith (Horses em versão com extras), U2 (DVD), Maria Teresa de Noronha (caixa), Eurythmics (oito reedições + best of), Duran Duran (DVD + CD ao vivo), Marianne Faithfull (DVD), Blondie (DVD), Kaiser Chiefs (DVD)
Dezembro: Teresa Salgueiro, John Lennon (DVD), Jens Leckman, Antony And The Johnsons (single)

Para 2006: X-Wife, Cindy Kat, Radiohead, The Strokes, Yeah Yeah Yeahs, Blur


As datas estão sujeitas a alterações. Nem todos os discos referidos têm edição nacional garantida pelas respectivas distribuidoras locais.

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