sexta-feira, outubro 21, 2005

500 discos em 5 livros

A Editorial Estampa acaba de lançar entre nós uma colecção de cinco pequenos livros sobre os discos mais vendidos das cinco primeiras décadas da história da cultura pop/rock. Título comum: Os 100 Álbuns Mais Vendidos da Década De…, um volume por década, dos anos 50 aos 90. Os livros têm o formato de um booklet de CD, com capa dura, apresentando cada qual os cem álbuns mais vendidos da respectiva década no mercado norte-americano. Cada álbum é evocado em duas páginas, uma recordando a sua capa, a outra evocando a sua história (e de quem os assinou) e pequenas curiosidades, não esquecendo uma ficha completa com alinhamento integral, nome do produtor, editora, data da gravação e de lançamento, participantes, singles dele extraídos, número de cópias vendidas, posição mais elevada no top de vendas, e quantidade de Grammys recolhidos. Cada livro apresenta ainda diversas estatísticas de vendas em cada década e um texto de contextualização que caracteriza as tendências estéticas e de mercado de cada período em análise.
Os livros, como objectos, são um mimo. Mas o critério de selecção é o calcanhar de Aquiles de uma pequena colecção que tem o seu interesse histórico e arquivista, mas que nem sempre evoca o que de musicalmente mais significativo e determinante aconteceu na década em questão. Os discos são recordados pelo número de vendas. E apenas no mercado americano. Onde estão os Sex Pistols em 70? O primeiro Pink Floyd em 60? Bowie em 70? Radiohead nos 90? Isto para não falar num Leonard Cohen, num Tom Waits, nuns Talking Heads, Smiths, De La Soul, Kraftwerk ou Depeche Mode, musicalmente determinantes, e por acaso todos eles até relativamente bem sucedidos?
Graficamente apelativa, a colecção é contudo apenas um retrato do sucesso, não da música em si. Um documento, sem dúvida, mas de sabor incompleto. Interessante para lembrar o que os americanos escutaram. Mas em nada capazes de traduzir o que a história realmente recordará como determinante na evolução da música. Como podem os anos 90 ser traduzidos… por Shania Twain, Garth Brooks e uma banda sonora com Whitney Houston?
PS. Apesar desta colecção recordar a história pop/rock à boa maneira RFM, aconselham-se mesmo assim os volumes dedicados aos anos 50 e 60. A lógica de selecção é a mesma de 70 a 90. Mas nesses dias alguns dos melhores discos editados (excepções e não a regra, é certo) chegaram a ser descobertos pelas multidões. E as capas… As capas justificam o prazer visual que se saboreia ao virar de casa página destes dois primeiros volumes.

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