sábado, setembro 24, 2005

RETRO: XTC, 1979

A recente vaga pop feita de euforia melodista para guitarras que nos tem chegado de terras britânicas nos dois últimos anos e ainda dá sinais de querer continuar a marcar a agenda por mais algum tempo, deve muita da sua identidade a uma redescoberta dos apetitosos baús da memória do pós punk britânico, e muito particularmente a uma banda e um álbum que parecem tomados como cartilha de referência: os XTC e o histórico Drums And Wires, de 1979.
O grupo que ao longo da sua extensa vida deu valentes dores de cabeça aos taxionomistas desejosos de os caracterizar numa caixa genérica, reconhecendo todavia todos eles uma admiração superior pelo talento criativo do seu vocalista, Andy Partridge, viveu os primeiros anos de vida entre as fileiras da frente de um movimento que captou o sentido de urgência e a carga libertária do punk, projectando estas novas lições num espaço menos agreste e claramente pop. Depois de dois interessantes álbuns de afirmação – White Music (1977) e Go2 (1978) – atingiram a solidez da sua linguagem em Drums And Wires, disco ainda hoje tido como um dos pilares de sustentação de toda a new wave. Entre o segundo e o terceiro álbuns, os XTC perderam um teclista, optando por substituí-lo por… um segundo guitarrista (que também dava com o dedo nas teclas quando era preciso). O álbum que então gravaram, revelou uma escrita mais apurada e sólida, energias mais focadas, uma secção rítmica irresistível (e consciente da sua importância estrutural na canção), uma coesão mais evidente, alma claramente britânica (vejam-se as marcas de humor), arranjos minimais e um melodismo pop protagonista (aqui aproveitando em pleno os jogos entre as duas guitarras). Na época, o álbum mostrou como uma ideia nova podia assimilar os princípios estruturais da canção clássica e do melodismo pop, tornando-se acepipe acessível e apetecível. Os ouvidos responderam afirmativamente, e do culto a banda saltou para o patamar superior. Aqui, a força irresistível do genial Making Plans For Nigel, editado como single, foi argumento irrecusável.
26 anos depois, o som do álbum está espantosamente actual e pertinente. As suas formas e canções são pão para a boca de novas bandas que nascem como cogumelos pop pela Inglaterra dos nossos dias.
XTC “Drums And Wires” (Virgin, 1979)

Se gostou, escute depois:
Undertones “Hypnotized” (1980)
Split Enz “True Colors (1980)

Franz Ferdinand "Franz Ferdinand" (2004)

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