Com a morte de Robert Wise, aos 91 anos, desaparece uma das figuras lendárias que fizeram a ponte entre o classicismo de Hollywood e a idade moderna do cinema americano. A sua actividade como montador está indissociavelmente ligada ao arranque da carreira de Orson Welles como realizador, nomeadamente em O Mundo a Seus Pés (1941) e O Quarto Mandamento (1942). Começou a dirigir filmes em meados dos anos 40, tendo assinado alguns títulos de referência do policial, como Born to Kill (1947), ou da ficção científica, como The Day the Earth Stood Still (1951). Os seus trabalhos mais célebres surgiram na década de 60: West Side Story (1961), o espectacular musical dançado, co-realizado com Jerome Robbins, e Música no Coração (1965), melodrama também musical que entrou para a galeria dos filmes mais conhecidos em todo o mundo. Assinou também, em 1979, a primeira adaptação cinematográfica de Star Trek. A sua derradeira realização foi o telefilme A Storm in Summer (2000), com Peter Falk.
JL: Wise ficará para a história como o mais discreto dos artesãos. À boa maneira clássica de Hollywood, tinha a versatilidade que lhe permitia mudar de registo (e género) sem pôr em causa a eficácia dramática e emocional de um bom argumento. Mais do que isso: sabia valorizar projectos de rotina com o know how de quem, da montagem à produção, tinha forjado uma discreta, mas muito forte, personalidade criativa. Lembremos casos exemplares como The Set-up (1949), um filme vibrante sobre os bastidores do boxe, com Robert Ryan, ou Audrey Rose (1977), brilhante exercício na área do terror e também um dos mais esquecidos descendentes da vaga de "Exorcistas" que, nos anos 70, proliferaram na produção americana.
NG: Tenho uma forte e muito antiga releção pessoal com Robert Wise (leia-se, com o seu cinema, claro!). A minha mãe viu, no Tivoli, Música No Coração horas antes de eu nascer. Quando, finalmente, tive tempo de vida para me poder sentar numa plateia e ver um filme, ali encontrei o primeiro momento de gosto pelo cinema (e pela canção). Em inícios de 70 vi o filme todos os Verões, sempre que regressava ao Tivoli. Sala antiga, sóbria, sem pipocas... Escutei o disco, até lhe gastar as espiras... Com o tempo descobri depois o outro Robert Wise. Um homem capaz de vestir todos os géneros, desta adaptação ao ecrã do registo tradicional da Broadway à descontrução da ideia clássica do musical, levando-o para a rua e para as gentes do seu tempo em West Side Story. Espreitando ainda, sem a alma viciada pelos pulp magazines dos anos 30 e 40, uma visita de extra-terrestres em The Day The Earth Stood Still, deslumbrando-me mais tarde com a dimensão plástica das imagens que cruzam o espaço na primeira adaptação de Star Trek ao cinema. Klaatu barada niktoo! (basta ver The Day The Earth Stood Still para descodificar esta última frase)...
JL: Wise ficará para a história como o mais discreto dos artesãos. À boa maneira clássica de Hollywood, tinha a versatilidade que lhe permitia mudar de registo (e género) sem pôr em causa a eficácia dramática e emocional de um bom argumento. Mais do que isso: sabia valorizar projectos de rotina com o know how de quem, da montagem à produção, tinha forjado uma discreta, mas muito forte, personalidade criativa. Lembremos casos exemplares como The Set-up (1949), um filme vibrante sobre os bastidores do boxe, com Robert Ryan, ou Audrey Rose (1977), brilhante exercício na área do terror e também um dos mais esquecidos descendentes da vaga de "Exorcistas" que, nos anos 70, proliferaram na produção americana.
NG: Tenho uma forte e muito antiga releção pessoal com Robert Wise (leia-se, com o seu cinema, claro!). A minha mãe viu, no Tivoli, Música No Coração horas antes de eu nascer. Quando, finalmente, tive tempo de vida para me poder sentar numa plateia e ver um filme, ali encontrei o primeiro momento de gosto pelo cinema (e pela canção). Em inícios de 70 vi o filme todos os Verões, sempre que regressava ao Tivoli. Sala antiga, sóbria, sem pipocas... Escutei o disco, até lhe gastar as espiras... Com o tempo descobri depois o outro Robert Wise. Um homem capaz de vestir todos os géneros, desta adaptação ao ecrã do registo tradicional da Broadway à descontrução da ideia clássica do musical, levando-o para a rua e para as gentes do seu tempo em West Side Story. Espreitando ainda, sem a alma viciada pelos pulp magazines dos anos 30 e 40, uma visita de extra-terrestres em The Day The Earth Stood Still, deslumbrando-me mais tarde com a dimensão plástica das imagens que cruzam o espaço na primeira adaptação de Star Trek ao cinema. Klaatu barada niktoo! (basta ver The Day The Earth Stood Still para descodificar esta última frase)...