domingo, setembro 18, 2005

MEMÓRIA: Garbo nasceu há 100 anos


Dos espectadores que, hoje em dia, vão regularmente ao cinema, quantos já viram um filme de Greta Garbo? Ninguém possui a resposta, mas não será arriscado supor que uma percentagem muito significativa terá uma imagem de Garbo que resulta menos do conhecimento directo e mais da sua natureza mitológica. De facto, nas primeiras décadas do cinema, ela foi uma figura que, como poucas (Chaplin poderá ser outra boa escolha) simbolizou a própria ideia de cinema.
Hoje, no dia em que passa um século sobre o seu nascimento — a 18 de Setembro de 1905, em Estocolmo (faleceu em Nova Iorque, a 15 de Abril de 1990) —, o menos que se pode dizer é que uma certa visão utópica do cinema e dos filmes permanece através de Garbo: ela persiste como símbolo da beleza enigmática e também da capacidade de transfiguração face a uma câmara de filmar que são, por princípio, elementos vitais do próprio cinema. Será possível imaginar uma Garbo gerada pela televisão? A resposta é simples: não.
De A Lenda de Gösta Berling (1924), de Mauritz Stiller, ainda na Suécia, até ao filme final, A Mulher de Duas Caras (1941), de George Cukor, Garbo condensa um ideal de cinema em que a sedução do espectáculo é indissociável do envolvimento romanesco. Como é óbvio, o facto de ter desistido de Hollywood, depois do citado filme de Cukor, apenas reforça a sua condição mitológica: abandonando o cinema em momento de plena glória, Garbo foi, afinal, a primeira arquitecta da sua própria lenda.

* Em DVD, três sugestões para descobrir a actriz (do catálogo americano da Warner Home Video):
Ana Cristina (1930), de Clarence Brown: o filme que representou o teste decisivo da passagem do mudo para o sonoro, promovido com uma das mais célebres linhas da história do marketing: "Garbo talks!"
Camille (1937), de George Cukor: uma das apoteoses clássicas do romantismo cinematográfico, ou A Dama das Camélias revista pelo futuro autor de My Fair Lady; com Robert Taylor.
Ninotchka (1939), de Ernst Lubitsch: genial comédia política sobre uma espia comunista que, em missão em Paris, se entrega aos encantos de um corrupto ocidental (Melvyn Douglas). Promoção: "Garbo laughs!"

* Em livro, existe uma biografia de edição muito recente:
Greta Garbo: A Cinematic Legacy, de Mark A. Vieira (ed. Harry N. Abrams; Agosto 2005).

* Na Internet:
The Ultimate Star

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