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Spike Lee é um verdadeiro cineasta do desejo, ou melhor, da diferença nunca estabilizada entre aquilo que cada personagem vê noutra e o que a segunda espera da primeira. Claro que, desde títulos como She’s Gotta Have It (1986) ou Do the Right Thing (1989), a sua visão está indissociavelmente ligada às tensões entre negros e brancos na sociedade americana. Mas seria redutor considerá-lo um cronista de temáticas "raciais". O que ele filma é sempre, em última instância, a imensa pluralidade do factor humano e todos os "excessos" que o fazem sair das normas politicamente (ou racialmente) correctas. Daí também que Spike Lee seja um dos mais ousados experimentadores do actual cinema americano. Nesse aspecto, Ela Odeia-me é um fulgurante exercício formal: começa como drama social, transfigura-se em comédia de costumes e desemboca na imponência de uma parábola sobre o presente crítico da própria nação americana. (Este parágrafo faz parte de um texto publicado no 'Diário de Notícias', de 22 de Setembro)
Notícia menos interessante: a admirável banda sonora de She Hate Me, da autoria de Terence Blanchard, não tem lançamento português previsto.