terça-feira, setembro 16, 2025

Robert Redford (1936 - 2025)

O Cowboy Eléctrico (1979), de Sydney Pollack

A sua herança como actor, produtor e realizador transcende as próprias noções tradicionais de representar, criar condições para que existam filmes ou dirigi-los. O seu trabalho supera mesmo qualquer visão maniqueísta do espaço artístico, já que a sua pertença a Hollywood nunca o impediu, antes potenciou, a sua condição de símbolo e promotor da chamada produção independente. Robert Redford faleceu na sua casa de Sundance, Utah, no dia 16 de setembro de 2025 — contava 89 anos.

>>> Perfil de Robert Redford, por Jeffrey Brown (PBS).


>>> 1966: com Natalie Wood, em This Property Is Condemned/A Flor à Beira do Pântano, adaptação de uma peça em um acto de Tennessee Williams, com realização de Sydney Pollack.


>>> 1969: com Paul Newman, no western Butch Cassidy and the Sundance Kid/Dois Homens e um Destino, dirigido por George Roy Hill — adoptando o nome da sua personagem, Redford chamou Sundance à propriedade do Utah onde, em 1978, viria a nascer o Festival de Sundance, montra exemplar da produção independente.


>>> 1972: Jeremiah Johnson/As Brancas Montanhas da Morte, filmado no Utah, de novo com Sydney Pollack a dirigir.

segunda-feira, setembro 15, 2025

Uma canção de Bob Dylan
pelo coro do Pembroke College

Pembroke College

Make You Feel My Love é um dos temas emblemáticos de Time Out of Mind (1997), trigésimo álbum de estúdio de Bob Dylan, tão famoso pela sua excelência poética e musical, como pela produção de Daniel Lanois. Recentemente, a britânica Anna Lapwood (maestrina, organista oficial do Royal Albert Hall, personalidade da televisão e da rádio) fez um arranjo da canção para o coro do Pembroke College, Cambridge — apenas sublime (+ o original em baixo).
 


sábado, setembro 13, 2025

Uma celebração cinéfila de Nova Iorque

Serenamente, Bud (à direita na imagem) vai tomando conta de Austin Butler...

Três anos depois de ter interpretado Elvis Presley, Austin Butler é a estrela de Apanhado a Roubar, uma evocação de Nova Iorque em que o realismo mais cru pode atrair um humor surreal, com a assinatura inconfundível de Darren Aronofsky — este trexto foi publicado no Diário de Notícias (28 agosto).

Nestes tempos de crescente aceleração do consumo do cinema (e de quase tudo, como é óbvio...), acontece que nos podemos enganar, ou ser enganados, na identificação de um determinado filme. Eis um exemplo bizarro: Apanhado a Roubar, o novo filme com o magnífico Austin Butler (três anos depois de Elvis, de Baz Luhrmann, ter mudado a sua carreira), não é exactamente sobre um ladrão.
Henry Thompson, o ex-jogador de baseball interpretado por Butler, vê-se envolvido num curto-circuito do submundo novaiorquino em que está em jogo a posse de alguns bem nutridos sacos de dinheiro — a cuja sedução, valha a verdade, ele não é indiferente. Mas aquilo que começa por distingui-lo é a paixão pelo baseball (e pela equipa dos Giants), desporto em que uma determinada falta susceptível de viciar o desenvolvimento de uma jogada pode ser designada como “caught stealing” — à letra, “apanhado a roubar” —, expressão que coincide com o título original do filme e também do romance de Charlie Huston que lhe serve de inspiração (adaptado pelo autor).
Henry é um herói acidental. Entregue às rotinas do bar onde trabalha, a viver um namoro tão sincero quanto relutante com Yvonne (Zoë Kravitz), vai ser projectado num carrossel de peripécias cada vez mais violentas por causa de... tomar conta do garboso Bud, o gato do vizinho Russ (Matt Smith). É esse exótico Russ, com o seu visual de punk, incluindo o cabelo em forma de crista Mohawk, que o projecta nos circuitos perversos de uma inusitada quantidade de dinheiro.
Convenhamos que tudo isto poderia ser matéria fútil, mais ou menos caricatural, para mais um “policial” requentado sobre um golpe desastrado (exemplo: o recente The Pickup, com Eddie Murphy). As diferenças começam no facto, de uma só vez narrativo e afectivo, de Apanhado a Roubar ser uma celebração de um tempo muito particular de Nova Iorque. O que, naturalmente, não é estranho ao facto de esta ser uma realização de Darren Aronofsky (nascido em Brooklyn, em 1969), sintomática do seu gosto pela combinação de um realismo muito cru com as derivações surreais de histórias centradas em personagens marcadas por muitas formas de solidão — recordemos, a propósito, os seus dois títulos anteriores: Mãe! (2017), com Jennifer Lawrence, e A Baleia (2022), com o “oscarizado” Brendan Fraser.
Logo no início, uma legenda indica-nos o ano da acção, 1998, abrindo para um misto de nostalgia e desencanto sinalizado pelo horizonte com as torres do World Trade Center. Não se trata de uma banal evocação “lírica”, antes de uma contextualização que nos ajuda a perceber o âmago da sua visão: esta Nova Iorque de muitas convulsões existe como um retrato íntimo dos tempos de Rudy Giuliani como “mayor” (aliás, citado logo na cena de abertura) em que, paradoxalmente ou não, a vibração da cidade se exprime através da pluralidade de origens, credos e sensibilidades dos seus habitantes.

Elogio dos secundários

Claro que Apanhado a Roubar faz lembrar algumas outras odisseias novaiorquinas vividas e encenadas entre a crueldade dos factos e os detalhes de um humor desconcertante, eventualmente sarcástico — será mesmo uma tentação cinéfila evocar a memória do inesquecível After Hours/Nova Iorque Fora de Horas (1985), de Martin Scorsese.
Enfim, quarenta anos depois, não necessitamos de encontrar “cauções” para Aronofsky (cuja estreia na realização ocorreu em 1998, com esse fascinante exercício transcendental que dá pelo nome de Pi). Ainda assim, registemos a deliciosa coincidência: Griffin Dunne, protagonista do filme de Scorsese, reaparece em Apanhado a Roubar, aliás integrando uma excelente galeria de secundários que inclui Liv Schreiber, Vincent D’Onofrio e Benito Martínez Ocasio (isto é, o rapper porto-riquenho Bad Bunny).

>>> Trailers: Caught Stealing e After Hours.
 


sexta-feira, setembro 12, 2025

Musicais: clássicos & modernos
* SOUND + VISION Magazine / FNAC [21 set.]

O musical teve a sua idade de ouro há mais de meio século, mas não desapareceu: propomos uma revisitação de memórias de um dos géneros mais populares na história do cinema.

* FNAC_Chiado — 21 setembro, 17h00.

quarta-feira, setembro 10, 2025

Lady Gaga em The Late Show

Do álbum Mayhem (lançado em março), eis uma prodigiosa reconversão da canção Vanish Into You. Aconteceu em The Late Show, com Stephen Colbert, e o mínimo que se pode dizer é que a grandiosidade orquestral contém o minimalismo de um piano e duas guitarras — com uma voz de outra galáxia.

terça-feira, setembro 09, 2025

segunda-feira, setembro 08, 2025

Joni's Jazz

Joni Mitchell, cantora de jazz? Pense. Pense duas vezes... Acima de tudo, Joni Mitchell cantora com jazz. Eis o que se prova (se dúvidas houvesse) com a magnífica antologia Joni's Jazz (61 faixas), em que podemos encontrar coisas óbvias como Blue (logo a abrir), a par de preciosidades como The Man I Love, um registo do álbum Gershwin's World (1998), de Herbie Hancock.
Eis um "demo" de Be Cool, canção que viria a integrar o alinhamento de Wild Things Run Fast (1982), aqui numa gravação de 1980.
Não era um adivinha, mas convém lembrar que, na capa, Joni surge na companhia de Hancock e Wayne Shorter.

Peter Sellers nasceu há 100 anos

Dr. Strangelove (1964), de Stanley Kubrick

Peter Sellers nasceu em Southsea, Portsmouth, no dia 8 de setembro de 1925 — faz hoje 100 anos.
Do Inspector Clouseau, da série de filmes da 'Pantera Cor de Rosa', sob a direção de Blake Edwards, até esse verdadeiro testamento dramático que é Bem-Vindo, Mr. Chance (1979), de Hal Ashby (Sellers faleceu a 24 de julho de 1980), a sua espantosa criatividade tem raízes britânicas que, em qualquer caso, o projectaram para a produção de Hollywood — incluindo a participação em Casino Royale (1967), desconcertante paródia ao universo de James Bond resultante de uma colaboração entre estúdios britânicos e americanos.
Eis uma breve memória do seu talento: quatro minutinhos de metódica sofisticação formal em A Festa (1968), de Blake Edwards, perseguindo um... sapato flutuante.
 

>>> Site oficial de Peter Sellers.
>>> Biografia no BFI.
>>> Peter Sellers na Enciclopédia Britânica.

domingo, setembro 07, 2025

Megadoc
— o documentário sobre Megalopolis

Estreado no Festival de Veneza, Megadoc apresenta-se através do próprio título: um documentário sobre Megalopolis, esse misto de superprodução e ensaio subjectivo com que Francis Ford Coppola deixou uma marca indelével no Festival de Cannes de 2024 (mas não no seu palmarés...). Realizado por Mike Figgis, o trailer é francamente motivador — para quando a sua difusão portuguesa?

A família de Jim Jarmusch vence em Veneza

O júri da 82ª edição do Festival de Veneza, presidido por Alexander Payne, consagrou o filme Father Mother Sister Brother, de Jim Jarmusch, com o Leão de Ouro — eis um pequeno apontamento familiar.