domingo, fevereiro 16, 2025

Ryan Adams, novo álbum...

É um dos raros e legítimos herdeiros de uma tradição que tem em Bob Dylan o seu núcleo artístico e simbólico: o americano Ryan Adams (nascido em Jacksonville, Carolina do Norte, 5 nov. 1974) não pára e já lançou o seu primeiro álbum de 2025 ("primeiro" porque, se a lógica se mantiver, o ano trará mais uns quatro ou cinco...). Chama-se Another Wednesday e é feito de registos ao vivo (sobretudo de canções do álbum Wednesdays, 2020), simples e sofisticados, numa palavra, intimistas — para já, eis o tema de abertura: When You Cross Over.

In Carolina
There were pictures on the wall
And the pain is lighter
The house is empty now and only shadows fall

And when you cross over
I hope she's waiting there for you
When you cross over
Into the spaces of the blue
When you cross over
Please know that I'll always love you
And may your pain return into the light
When you cross over tonight

My brother
Born in Alabama just as winter calmed
My family moved to Carolina
In the shadows of the pines and lumberyards

And when you cross over
I hope they're waiting there for you
When you cross over
Please know that I'll always love you
When you cross over
Into the spaces in the blue
And may your pain return into the light
When you cross over tonight

I know you didn't wanna leave this way
I know you tried your best to hide it
I'm gonna love you now, anyway

In Carolina
Roses bloom beside the house
Your brother and your sister, your mother and your father
All of your friends gather around

And when you cross over
(...)

sábado, fevereiro 15, 2025

Peter Gabriel, 75 anos
* SOUND + VISION Magazine / FNAC [hoje, 15 fev.]

O criador de canções como "Solsbury Hill" e "Sledgehammer" celebra o 75º aniversário — no nosso próximo Magazine, revisitamos a sua obra invulgar de cantor, compositor e produtor.

>>> FNAC Chiado — 15 fevereiro, 17h00.

terça-feira, fevereiro 11, 2025

A IMAGEM: Eric Lee, 2025

ERIC LEE / The New York Times
Elon Musk, que tem a seu cargo o chamado Departamento de Eficácia do Governo,
com o seu filho, de nome X, e o President Trump na Sala Oval da Casa Branca
11 janeiro 2025

segunda-feira, fevereiro 10, 2025

Maria Callas no cinema
— 5 filmes (e 4 óperas)

Angelina Jolie e Maria Callas
[ People ]

A estreia do filme Maria, em que Angelina Jolie interpreta Maria Callas, é um sugestivo pretexto para redescobrirmos a presença da lendária cantora lírica na história do cinema — este texto foi publicado no Diário de Notícias (18 janeiro).

Graças ao admirável filme de Pablo Larraín, Maria, com Angelina Jolie, estes são tempos de revisitação da prodigiosa voz de Maria Callas (1923-1977) e, em particular, da sua trajectória no cinema.
Em boa verdade, a filmografia de Callas como actriz reduz-se a um título: Medeia (1969), a tragédia de Eurípedes revista e recriada por Pier Paolo Pasolini. É um filme marcante na multifacetada produção europeia da década de 60 em que, ironicamente, a presença de Callas não envolve o canto, “apenas” a invulgar vibração dramática do seu rosto e da sua presença.
Pontualmente, a cantora lírica foi personagem de alguns filmes, como acontece no retrato de Grace Kelly, Grace do Mónaco, em que Callas surge interpretada por Paz Vega. Seja como for, não haverá cena mais célebre com a voz de Callas como aquela em que, no filme Filadélfia, Tom Hanks escuta a ária “La mamma morta”. Sem esquecer que, como acontece no recente Beetlejuice Beetlejuice, até mesmo a comédia mais surreal pode integrar a herança de Callas — aqui vai fica uma breve memória da sua história cinematográfica.
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* Filme: MEDEIA (1969), de Pier Paolo Pasolini
(trailer original)



* Filme: FILADÉLFIA (1993), de Jonathan Demme
Ópera: Andréa Chenier (1896), de Umberto Giordano
Ária: "La mamma morta" (Maddalena) / cena do filme


* Filme: PASOLINI (2014), de Abel Ferrara
Ópera: O Barbeiro de Sevilha (1816), de Gioachino Rossini
Ária: “Una voce poco fa” (Rosina) / concerto de 1959


* Filme: GRACE DE MÓNACO (2014), de Olivier Dahan
Ópera: Gianni Schicchi (1918), de Giacomo Puchini
Ária: “O mio babbino caro” (Lauretta) / cena do filme


* Filme: BEETLEJUICE BEETLEJUICE (2024), de Tim Burton
Ópera: Lucia di Lammermoor (1838), de Gaetano Donizetti
Ária: "Regnava nel silenzio" (Lucia) / gravação de 1959

Wilco: A Ghost Is Born, 20 anos depois

A Ghost Is Born só precisou de duas décadas para se consolidar como um clássico. Aí está a reedição (revista e aumentada...) do álbum dos Wilco, ou como a banda de Chicago, liderada pela voz de Jeff Tweedy, parece ter inventado o seu território independente no interior de um espaço que já era alternativo — para recordar, eis At Least That's What You Said, num palco do Austin City Limits, em 2005.
 
When I sat down on the bed next to you
You started to cry
I said, maybe if I leave, you'll want me
To come back home
Or maybe all you mean is "leave me alone"
At least that's what you said

You're irresistible when you get mad
Isn't it sad? I'm immune
I thought it was cute
For you to kiss
My purple black eye
Even though I caught it from you
I still think we're serious
At least that's what you said
 

Patti Smith, a slow start

Patti Smith esteve doente e tem tido uma recuperação algo complicada — como ela diz, foi compelida a começar 2025 de forma lenta. Na sua mensagem, além do mais, confirma que brevemente dela teremos um novo livro. Sem esquecer que este é o ano do 50º aniversário de Horses.

A message for all by Patti Smith

thinking of you

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domingo, fevereiro 09, 2025

sexta-feira, fevereiro 07, 2025

Brahms e Schubert
por Alexandre Kantorow

Figura fetiche do actual panorama europeu da música clássica, o pianista francês Alexandre Kantorow apresenta um belíssimo álbum dedicado a Brahms e Schubert — Brahms Schubert [BIS] —, incluindo cinco canções de Schubert transcritas por Liszt. Eis o primeiro andamento, Allegro, da sonata nº 1 de Brahms.

O labirinto da dor

Kieran Culkin e Jesse Eisenberg: a comédia é uma coisa séria

Acumulando as tarefas de actor, argumentista e realizador, Jesse Eisenberg faz o retrato de dois primos marcados pelas memórias do Holocausto. A aventura existencial é partilhada com Kieran Culkin e não será uma surpresa que o filme surja com algum destaque nas nomeações para os Oscars — este texto foi publicado no Diário de Notícias (17 janeiro).

É bem possível que, ao descobrirmos um filme como A Verdadeira Dor, sejamos levados a supor que os seus actores principais — Jesse Eisenberg e Kieran Culkin — estão apenas a fazer variações sobre personagens que os consagraram. No caso de Eisenberg, vem à memória a sua composição nervosa e exuberante, interpretando Mark Zuckerberg, em A Rede Social (2010), a obra-prima de David Fincher sobre o nascimento do Facebook; quanto a Culkin, o misto de provocação e fragilidade da sua presença faz-nos pensar na figura do filho rebelde da família Roy na séria Succession (2018-2023).
Mesmo admitindo que tais “paralelismos” possam ter alguma lógica, o filme merece a nossa atenção e disponibilidade para lá de tão mecânicas impressões. Estamos perante uma proeza tanto mais admirável quanto o seu registo de “comédia de dois amigos” (“buddy comedy”, de acordo com o rótulo tradicional de Hollywood) não exclui, antes serve de auto-estrada narrativa, para uma dimensão intimista, um verdadeiro labirinto trágico.
Infelizmente, uma vez mais, o título português vicia a significação do original. Assim, não se trata de colocar em cena um sofrimento abstracto e generalista que seria “a” verdadeira dor. O que conta é que esta é “uma” verdadeira dor (A Real Pain), indissociável de referências muito concretas, impossíveis de adaptar a qualquer outra situação. David Kaplan (Eisenberg) e Benji Kaplan (Culkin) são dois primos que decidem conhecer melhor as suas raízes judaicas, visitando a Polónia e alguns lugares onde ecoam os crimes do Holocausto — o objectivo final da viagem é a descoberta da casa onde viveu a avó que marcou de forma muito especial a existência de ambos.
Escrito e realizado pelo próprio Eisenberg, o filme consegue preservar os sobressaltos da comédia sem que isso impeça a crescente inquietação que, envolvendo as memórias da Segunda Guerra Mundial, nos remete para a interrogação primordial da identidade judaica. Avesso a generalizações fáceis ou a simbolismos mediáticos, A Real Pain possui as qualidades de um romance capaz de nos fazer ver e sentir a encruzilhada de factos, valores e perguntas de que se faz essa mesma identidade.
Garantem os oráculos de Hollywood que Culkin é um sério candidato a arrebatar o Oscar de melhor actor secundário, ao mesmo tempo que Eisenberg pode conseguir, pelo menos, uma nomeação para melhor argumento original. Há outra maneira de dizer isto: dos intérpretes que solicitam a nossa identificação até à elaboração narrativa que nos envolve numa ambígua ligeireza, eis um filme capaz de “integrar” dois actores muito populares sem os obrigar a simplificar uma aventura existencial que desafia, ponto por ponto, as suas imagens “de marca” — prova muito real disso mesmo será, por certo, o rosto de Culkin no espantoso plano final do filme.



Ambrose Akinmusire, um auto-retrato

Aí está a primeira obra-prima de 2025: com honey from a winter stone, o trompetista e compositor Ambrose Akinmusire percorre referências essenciais na sua formação e prática musical, elaborando um álbum que ele próprio define como um auto-retrato — conta com as preciosas colaborações de Kokayi (voz), Sam Harris (piano), Chiquitamagic (sintetizador), Justin Brown (bateria) e o Mivos Quartet. Eis o tema de abertura, muffled screams.