sábado, dezembro 19, 2009

"Avatar" e os outros espaços (2/10)

PSYCHO (EUA, 1960), de Alfred Hitchcock

Face a Avatar, de James Cameron, gostaria de defender a ideia segundo a qual a "descoberta" do 3-D é uma asserção historicamente fraca. Dito de outro modo: a história do cinema contém toda uma genealogia dramática do espaço, por vezes de enorme complexidade conceptual, que está muito para além da "ilusão" óptica — dez fotogramas para nos lembrarmos.

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A maior parte dos cineastas contemporâneos passou a entender o plano subjectivo como um mero gimmick de jogo de video: quase sempre sob o efeito de uma grande angular, alguém (de preferência "monstro" ou "vítima") avança no espaço, agitando-o. Mestre dos planos subjectivos, Hitchcock ensina-nos que não se trata apenas de mostrar "aquilo" que alguém vê, mas de expor o que transcende a visão. Aqui, por exemplo, quando Marion (Janet Leigh) abre a janela do carro para o polícia que a manda parar: o plano subjectivo remete-nos para o estado de alma de Marion, isto é, para o seu sentimento de culpa (depois de ter roubado dinheiro ao patrão), contaminando todo o espaço físico e anímico. O efeito é tanto mais perturbante e claustrofóbico quanto o olhar oculto do polícia coexiste com a extrema delicadeza do seu comportamento — como se víssemos um anjo e pressentíssemos o inferno. Ainda e sempre: o que conta não é o que se mostra, mas o modo de o mostrar — chama-se a isso: narrar.