terça-feira, setembro 09, 2008

MTV: a irresponsabilidade política

Foram estes os principais protagonistas dos Video Music Awards 2008 da MTV: Britney Spears que, depois de uma infeliz participação no espectáculo do ano passado, arrebatou três prémios (in-cluindo 'Video do Ano', para Piece of Me); e o apresentador Russell Brand cuja presença, infelizmente, entra para a história pelas piores razões.
Brand achou por bem pedir aos americanos, "em nome do mundo", que votem em Barack Obama. E disse ainda coisas como esta: "Algumas pessoas — creio que lhes chamam racistas — dizem que a América não está preparada para um Presidente negro, mas eu sei que a América é um país de espírito aberto. Caso contrário, como é que teriam eleito aquele cowboy atrasado mental como Presidente por oito anos?" Numa apoteose de mau gosto, convocou mesmo o tema da gravidez de Bristol Palin, filha de Sarah Palin: "Sinto alguma pena da filha dela por ter ficado grávida, pobre miúda: será um rapaz, será uma rapariga? Vá lá, sejamos honestos, é uma jogada das relações públicas!" — eis o registo (também disponível, com legendas, no site do jornal Público).



Já sabíamos que a MTV abandonou o seu papel de líder do experimentalismo e do risco criativo na área musical. Mais do que um canal de música, transformou-se num espaço submetido às regras da reality TV, banalizando as relações humanas e, em particular, favorecendo uma visão da sexualidade desligada de qualquer tipo de emoção e qualquer resto de ternura, obedecendo apenas a um princípio de "satisfação" da mais absoluta puerilidade.
Com a intervenção de Russell Brand, a MTV dá um passo mais, promovendo a irresponsabilidade política. De facto, se este é um canal da juventude e para a juventude, semelhante visão da cena política — e, concretamente, dos candidatos das eleições america-nas — só pode implicar um alheamento dos problemas gravíssimos, para a América e para o mundo, que estão em jogo. Mais ainda: a história ensina-nos que "defender" um candidato (Obama) com este tipo de linguagem e terminologia, é um gesto de tamanho desres-peito pela inteligência dos eleitores (entenda-se: de todos os eleitores) que, na prática, só pode favorecer os seus opositores.