terça-feira, fevereiro 19, 2008

De M.M. a L.L.

Há poucos meses, a célebre última sessão (the last sitting) de Marilyn Monroe com o fotógrafo Bert Stern foi matéria de inspiração para um portfolio de Charlize Theron assinado por Sheryl Nields (na edição de Novembro de 2007 da Esquire). Agora, as mesmas imagens voltam a servir de modelo para a actriz e cantora Lindsay Lohan — com uma particularidade que tem tanto de lógico como de perturbante: desta vez, o fotógrafo é o próprio Bert Stern.
O novo portfolio está na revista New York e é um símbolo revelador dos mecanismos de devoração e reinvenção do star system contemporâneo. Do lendário teledisco de Madonna — Material Girl (1985), refazendo a imagem de Marilyn em Os Homens Preferem as Louras (1953) — à sessão de Lohan "repetindo" Marilyn, aquilo que prevalece é a consciência paradoxal de que vivemos em desencantado estado de perda em relação ao imaginário clássico do cinema.
Amanda Fortini, a jornalista da New York que acompanhou o trabalho de Stern e Lohan, resume muito bem esse estado de coisas, evocando a "intimidade quase claustrofóbica" das fotos originais [capa do livro em baixo]: "Na primeira sessão, Stern convenceu o grupo de estilistas a deixá-lo sozinho com Marilyn. A sessão decorreu por isso sob as marcas simbólicas (porventura verídicas) de uma ligação. O desenvolvimento do complexo industrial das celebridades tornou esse tipo dramático de pas de deux virtualmente impossível. Durante a sessão de Lohan, a multidão incluía o seu empresário, o seu segurança e Ali, a sua irmã mais nova; um caracterizador e o seu assistente; uma cabeleireiro e o seu assistente, um estilista, um manicure, um guarda para tomar conta dos diamantes emprestados; Stern, o seu empresário e dois assistentes. Lohan e Stern trabalharam na sala ao lado, enquanto todos nós rondávamos cá por fora, como fãs junto à entrada dos artistas."