terça-feira, novembro 13, 2007

Discos da semana, 12 de Novembro

Apesar de ser frequentemente reconhecida uma espécie de “norma pop” que aponta aos primeiros dois ou três álbuns de uma banda os seus mais marcantes momentos, as excepções existem. Muitas, é verdade. E uma mais pode ser apontada aos Okkervil River. Quem pensava que seria o seu terceiro álbum (Black Sheep Boy, de 2005) a garantir a sua inscrição na história da música da presente década, aponte agora as atenções ao quarto, The Stage Names, não só o que, até agora, mais justifica um olhar sobre a obra deste grupo de Austin (no Texas), como também o que eleva a banda ao estatuto da primeira liga dos acontecimentos musicais do ano em curso. O disco confirma e leva ainda mais adiante os feitos na escrita de Will Sheff, confirmando que não mora apenas no campeonato dos cantautores essa capacidade em pensar as palavras como medula fundamental de uma canção. As imagens e reflexões que encontramos nestas canções são ângulo certo para uma primeira abordagem ao álbum. A faixa de abertura, Our Life Is Not A Movie or Maybe debate as diferenças entre os cenários banais da chamada vida real e o aprumo narrativo e visual das histórias que se contam no cinema. Assim se abre um disco que debate relações entre o mundo da arte e as vidas comuns que a criam e apreciam. E que oferece, a meio, um rebuçado pop para nerds musicais em The Plus Ones, um discorrer de referências de canções (como 96 Tears, 99 Luftbaloons ou TVC 15, a cada uma somando mais um...)... E, a fechar, outra iguaria para melómanos, integrando um “pedaço” de Sloop John B, dos Beach Boys, em John Allyn Smith Sails. Magnífico!
Okkervil River
“The Stage Names”

Jagjaguwar
4/5
Para ouvir: MySpace
.
.
Num momento de pausa, entre o final de uma extensa digressão que acompanhou o lançamento de Takk e o enfrentar de nova etapa de invenção em estúdio, os islandeses Sigur Rós apresentam aquilo que parece ser o que de mais próximo de um “best of” neste momento podem mostrar. Cientes do seu estatuto, evitam assim o “greatest hits” precoce e, optando por outra maneira de revisitar o seu passado, apostam antes numa colecção variada de olhares retrospectivos que se complementam e em nada maculam uma maneira de estar na vida (e na música) que não pactua com certo tipo de jogadas de cash-in fácil. Por um lado lançam Heima, em DVD, um dos mais belos e consequentes dos documentários musicais que os últimos tempos nos têm dado. Por outro, apenas com som, apresentam Hvarf / Heim, um complemento áudio, em CD, menos empolgante, menos surpreendente, mas nem por isso desinteressante. Dividida em duas etapas, esta é uma colecção que recolhe velhas memórias esquecidas e, por outro, novas versões, acústicas, de temas editados nos primeiros dez anos de vida discográfica do grupo islandês. O segmento Hvarf (ou seja, “desaparecido”) recolhe alguns inéditos (entre os quais o carnal e assombroso I Gaer) e junta-lhes dois temas do álbum de estreia, Vón (1997), que ainda hoje apresentam em concertos. No segmento Heim (“casa”) percorrem, sem o habitual aparato de estúdio, temas mais conhecidos do seu catálogo. Sem surpresas (salvo talvez o já citado I Gaer), eis uma forma inteligente de gerir memórias. Nada de muito novo. Mas nada de grave, por aqui...
Sigur Rós
"Hvarf / Heim"
EMI / EMI Music Portugal
3/5
Para ouvir: MySpace
.
.
Depois da promissora estreia em Everything All The Time, que então levantou elogiosas e recorrentes comparações a nomes como os The Shins ou Flaming Lips, aguardava,se, com alguma expectativa, o segundo capítulo na discografia dos Band Of Horses. A saída de um dos fundadores, a mudança de Seattle para a Carolina do Sul (e para a geografia original da banda) prometia mudanças. E a expectativa aumentava... Cease To Begin chegou. E, de certa maneira, acaba uns furos abaixo do esperado. A voz de Bem Bridwell mostra-se segura, mesmo majestática (e é peça fulcral na imponência indie pop sugerida em There’s a Ghost In My House, o melhor momento do álbum). O trio parece mais confiante, o som mais coeso e a atitude mais ambiciosa. Nada contra. O disco parece traduzir uma vontade em fugir aos pólos mais óbvios das comparações descritas aquando da edição do álbum de estreia e, em frequentes instantes, sugere sinais de busca por novas marcas de personalidade. Porém, em Cease To Begin a forma é mais apelativa que o conteúdo. E é no departamento da escrita que fracassam os objectivos de um disco que poderia ter em si o bilhete para novo estatuto para uma banda até aqui feita de grandes promessas, mas que por enquanto não as cumpre na plenitude... Não se trata de uma catástrofe. Há aqui pistas suficientes para justificar o manter de atenções sobre esta gente, a ver se mostram mais calorias em próximas refeições... Todavia, mesmo com um álbum menos brilhante, convenhamos que no single There’s A Ghost In My House mostram real capacidade para criar grandes hinos indie pop.
Band Of Horses
“Cease To Begin”

Sub Pop
3/5
Para ouvir: MySpace
.
.
David Shrigley é um artista de 39 anos de idade, residente em Glasgow (Escócia), cuja obra, que expõe em mostras individuais desde 1995, se enquadra no espaço habitualmente hoje descrito como “outsider art”. Os seus desenhos veiculam pontos de vista muito pessoais e, um pouco como os de Daniel Johnston, traduzem uma quase inexistência de técnica. O seu livro de 2005, Worried Noodles, foi alvo de uma abordagem criativa por 39 artistas, dele nascendo um álbum duplo de tributo que quase sugere um retrato de diversos campos de acção das músicas alternativas do presente. Como em todos os discos de tributo, em Worried Noodeles há do bom e do nem por isso. Curiosamente, um dos mais inesperados momentos de “nem-por-isso” é assinado pelos Franz Ferdinand (em No), um dos raros momentos de falta de inspiração numa das melhores bandas da presente década. Entre o melhor do disco destacam-se as participações de Final Fantasy (não falha, é impressionante!), Mt Erie, No Kids, Grizly Bear, Trans AM, Psapp, Aidaw Moffat & The Best Ofs... O próprio David Shrigley entra em cena, com os Tussle, em A Clash Of Herds. Pelo alinhamento encontramos ainda nomes como os de David Byrne, Deerhoof, Liars ou os Hot Chip. Como complemento às canções, o próprio Worried Noodles (o livro), é reeditado, fazendo deste um objecto digno de consultar fisicamente, e não apenas em formato digital.
Vários
“Worried Noodles”
Tom Lab / Flur
3/5
Para ouvir: MySpace
.
.
Depois de medíocre estreia a solo, em Paper Monsters, a colaboração, enquanto autor, de Dave Gahan para o recomendável Playing The Angel dos Depeche Mode, deixou sinais de esperança sobre as reais capacidades do vocalista enquanto escritor de canções. Suffer Well, sobretudo, fez a surpresa e não pareceu então desprovida de sentido a “invasão” do espaço criativo desde 1982 a cargo de Martin Gore, antes apenas pontualmente partilhado por Alan Wilder. Assim sendo, o anunciar de nova experiência a solo parecia fadada a melhor sucesso que o de Paper Monsters... Gahan reuniu consigo o baterista e guitarrista que correram mundo, na estrada, com os Depeche Mode na sua última digressão. E eis que apresenta Hourglass, um segundo álbum que, mesmo sem representar uma oferta de mais do mesmo, não revela todavia muito mais que uma colecção de temas onde a escrita é menor denominador comum sob uma moldura intensa de referências de sombras, poderio tecnológico e negritude, muito à Depeche Mode, mas sem a mesma intensidade ou argumentos. Tecnicamente é um disco mais elaborado e cuidado que Paper Monsters, sobretudo na gestão das electrónicas convocadas. Contudo, deixa muito a desejar nas canções. E mais não parece que um disco de sobras de infrutíferas sessões dos Depeche Mode... Um logro sofisticado. Pomposamente inconsequente. E muito desinteressante. Salva-se Kingdom, um bom single, seguro (em típico registo DM), mas que lançou aperitivo acima da capacidade de resposta do resto do alinhamento do álbum.
Dave Gahan
“Hourglass”
Mute / EMI Music Portugal
2/5
Para ouvir: MySpace


Também esta semana:
Sigur Rós (DVD), Boy Kill Boy, Nick Cave (banda sonora), Ladytron (repackage), Susumu Yokota, Rolling Stones (compilação), LCD Soundystem, Raveonettes, Killers, Led Zeppelin (best of)
Brevemente:
19 de Novembro: Duran Duran, GNR (reedição), Jorge Palma (reedição), Tantra (reedição), Manuela Moura Guedes (reedição), Sheiks (antologia), Gorillaz (compilação), Live Earth, Daft Punk (live), The Bird and The Bee
26 de Novembro: Ryan Adams (EP), Damien Rice, Nine Inch Nails, Whitest Boy Alive, Jean Michel Jarre (reedição), Scissor Sisters (DVD)
3 de Dezembro: Rufus Wainwright (CD + DVD – Judy Garland), Muse (live), U2 (reedição)

Dezembro: Johnny Greenwood, Radiohead