quarta-feira, janeiro 31, 2007

Saír para fora lá dentro

Ano Bowie - 22
'1. Outside' - Álbum, 1995
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Salvo pontuais excepções (e todas elas anteriores a 1986), os anos 80 não foram a "casa" de Bowie. Depois de Scarry Monsters e até Let's Dance, os discos que se lhes seguiram não trouxeram grandes notícias. Depois foi a etapa Tin Machine, banda que também não deixou grandes saudades. Tudo parecia perdido até que, em inícios de 90, os álbuns Black Tie White Noise e The Buddha Of Suburbia (uma banda sonora) reacenderam a chama do desafio. Com 1. Outside, logo depois, a sublinhar que, afinal, ainda havia em Bowie espaço para a surpresa.
Um reencontro com Brian Eno estava já apalavrado desde o dia do casamento com Iman (em 1993). Meses depois, escutada a banda sonora de The Buddha Of Suburbia, Eno juntou-se em estúdio a Bowie, retomando hábitos das míticas sessões "berlinenses" que deram ao mundo os álbuns Low e Heroes, de 1977, e Lodger, de 1979. Mas entre as novas mecânicas de trabalho encontrava-se algo diferente: um desafio de role playing entre músicos, a quem eram entregues cartões com sugestões de personagens e de como deveriam agir (leia-se tocar) nas diversas situações que depois aconteceriam. Ou seja, sair para fora de cada um, procurando afinal ideias escondidas em cada um...
Ao estúdio foram convocados alguns colaboradores de excepção, entre os quais o guitarrista Reeves Gabrels, o baixista Erdal Kizilcay, o teclista Mike Garson e o baterista Sterling Campbell. Nos primeiros dias, em busca de rumo, Bowie pintava em estúdio enquanto os músicos ensaiavam. Uma ideia de juntar a alta cultura à cultura popular acabaria por conduzir a construção de um disco que acabou acompanhado não só por uma série de espantosas visões gráficas como até por uma narrativa de ficção, o diário de um imaginário Nathan Adler, com todas as condimentações de fim de milénio então em voga. Gravaram-se horas e horas de takes, uma série de discos logo pensada para edições várias até ao ano 2000. Mas a editora recusou a aventura e aconselhou Bowie a concentrar num só álbum o melhor de todo esse trabalho. Convenhamos que terá sido um conselho útil e sensato, já que 1.Outside acabou por reflectir um entendimento entre electrónicas, guitarras e novastecnologias ao serviço do estúdio com o âmago da melhor identidade "rock" e as diversas obsessões na primeira pessoa, de Bowie.